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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pensa, meu filho, pensa!




Pensa, meu filho, pensa!



                                                                         Ilustração: Internet


          Devem ter notado que tenho voltado ao tema sobre o futuro. É verdade. Se ontem comentavam que eu me restringia às emoções e vivências do passado, porque sou mesmo saudosista, hoje tenho me dedicado ao tema que mais me inquieta e que, na minha concepção, é o "Presente". Se fosse escrever aos moldes da linguagem das redes sociais, eu diria: Da série:- Percepção do futuro. Para ser mais divertida, poderia ser: Da série – Caiu a ficha, ou : Da série - Olhe quem entrou em sua casa...

          O interessante é que as pessoas mais antigas até se surpreendem com o que têm visto, o que já não acontece com as crianças e jovens, porque são fruto da filosofia da imediata resposta, dos fundamentos do "Não me faça pensar*". Diferentemente, sou da época da necessidade peremptória de ter que pensar. E pensar muito. Ou melhor, sou da fase de transição, de um século a outro e suas maravilhas e surpresas, o que exige mais esforço para adaptação às novidades. Coisas, aliás, já antecipadas nas conversas de meu velho pai: meus filhos, vocês verão coisas que nem imaginam. O homem vai arrastar o mundo com a ponta do dedo; vai se desintegrar aqui e se materializar em outro lugar; vai ler pensamento e atravessar as paredes, vai ser operado sem cortes, vai ter peças de reposição, vai ver e ouvir pessoas do outro lado do mundo, em tempo real... Naquela ocasião eu achava que aquele discurso era uma questão de retórica, para nos motivar a estudar e buscar com otimismo o que viria. Era, com certeza um visionário, porque descrevia o mundo que ele não conhecia e que estamos vivendo agora. Se a nossa infância e juventude foram recheadas de autores, filósofos e Enciclopédias, hoje as tecnologias são desenvolvidas de modo tal que a criança, mal saída do berço, sabe arrastar um ícone no tablet e abrir as portas do mundo, sem nenhum esforço. Já nascem com a chave nas mãos.

          A evolução é, sem dúvida nenhuma, uma viagem sem volta. Estamos a caminho de uma mudança, inclusive física, em que seremos mais cabeça; testa enorme e imensos olhos; partes do corpo mais utilizadas e por isto com maior probabilidade de redefinirem o rosto de nossa espécie. Em contrapartida, braços e pernas hão de atrofiar pelo desuso.

          Entre tudo o que se espera acontecer, ainda nos surpreendemos com aqueles que envelheceram. Apesar da idade, continuam em seu propósito de participar desta evolução efetivamente, mesmo que sacrifiquem o pouco de vida que lhes resta. São pessoas especiais que desejam contribuir para o progresso da humanidade.

          A primeira cosmonauta da história, a russa Valentina Tereshkova, manifestou seu desejo de voar a Marte, com uma passagem só de ida, por ser um projeto economicamente mais viável. Valentina tripulou um voo a bordo do foguete Vostok 6 em 1963 e ainda se mostra disposta a uma viagem sem volta, sem se preocupar com a duração, com a radiação e com tudo que deixaria para trás. Seria uma doação definitiva de experiência, conhecimento, corpo e alma.

          Dois anos após o desastre nuclear no Japão, apenas os idosos voltam para áreas evacuadas ao redor da usina avariada, apesar dos trabalhos de descontaminação dos campos. Eles se oferecem como cobaias para estudar a resposta do corpo no terreno contaminado. Mesmo com a idade avançada e com o comprometimento da própria saúde, sonham trazer sua cidade de volta à vida, por amor à terra natal. Cada pessoa que resolve voltar à área do desastre recebe um dosímetro que registra a tensão radioativa atual e acumulada. Isto me parece uma bomba-relógio, pronta a explodir. Eles não se importam. A grande maioria acredita que a entrega de sua vida se justifica na garantia da vinda e sobrevivência dos que ainda nascerão. E, o que mais os idosos lamentam é não mais ouvirem as vozes das crianças.

          A aposentada do Japão espera a chegada da primavera, apesar da radiação dos campos e da ausência dos filhos e netos. A cosmonauta russa sonha com uma viagem sem volta a Marte, como precursora de um projeto de colonização do planeta tão distante. Enfim... Infância, juventude, velhice; tudo é uma questão de tempo, ou de ilusão do tempo e do espaço. Em um momento qualquer, em um lugar indefinido, todos acabam se encontrando e o que parece o fim é simplesmente o começo.

          Pensando bem... Não me surpreenderia se visitantes intergaláticos atravessassem as paredes de minha casa.



Valéria Áureo


13/06/2013
                                                                            





.* Não me faça pensar-  O livro mais procurado sobre usabilidade no mundo. Steve Krug consegue convencer, desde os designers mais recalcitrantes, aos executivos insensíveis ao comportamento do usuário, que usabilidade deve ser levada em consideração. O mote é que a interface deve ser tão óbvia, que o usuário não precise ficar parando para raciocinar ou pensar como usá-la.


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