Eu usava jeans lavado, rasgado; um
adereço para se ajustar ao coração desbotado de juventude sem paradeiro. Havia
tempos que eu vivia nesse desleixo, quase despido de energia e voz, sem saber
sequer sonhar. Um ser adoecido, rebelde, cinza, apagado, produto da moral do
país. Mais um ser aniquilado pela decepção; constatação da destruição e caos. Sabia
que meu coração estava sintonizado in blue, apesar de sons irreconhecíveis
entrando pelas janelas. Todo dia uma melodia de escárnio rasgava a minha pátria.
Ó Pátria desvalida! Ó Pátria desditosa! Ó Pátria que desconheço! Pensamentos
arrancados de um novelo embaraçado de ideias me enforcavam.
Vesti amarelo. Tênis
azuis com faixas verdes e o hino reverberando no crânio. E, a partir disso, minha identidade aflorou,
irrigando os meus poros em uma explosão. Saí e gritei em defesa da pátria aviltada.
E não tirarei a camisa da Pátria, até o fim das eleições ( e dos meus dias). Vesti
a Bandeira do Brasil, agora morando em mim, se tornando a minha segunda pele.
Autora: Valéria Áureo