Tudo iluminado.
Encontram-se no firmamento a esperança e o tempo de luzes. E, no exato instante
de pés e areia se tocarem, já não mais há movimentos... Champagne, abraços,
ondas, beijos, promessas e juras eternas. O ano e o instante em que acaba a
contagem de 2014 acontecem juntos e se misturam. Impossível, nada para, porque
já se deu o ano 2015 no imediato segundo da súbita revelação. Foi-se o passo, o
instante, o fôlego, o sopro de um e já o começo do outro. É hora em que habito
o presente e ele se desfaz passado, como o líquido sorvido com sofreguidão da
mágica anunciação. Réveillon! Fogos!... Descalça no chão úmido e prateado em
que o caminho se abeira comigo, vem a menina que me habita e está sempre
absorvida com o tempo. Imponderável tempo. Esta incógnita e esta imensurável
transitoriedade.
Não me canso de olhar as possibilidades que o campo
verde tem; ou mesmo o céu, o mar, a estrada, o rio e o deserto. Inventor de
flores, eu escolho as cores que devem estar amanhã na paisagem; seja daqui,
seja de onde você possa estar. Por ora devo preferir tons azuis... Ou não! Eles
me falam de dores e saudades e o tempo é de festa... Você pode escolher a que
preferir, enquanto eu não me decido. Quero que faça sol e é por isso que habito
com calor os arrebóis que me projetam para alcançar aquela estrada que, por si
só, me diz que não sei pra onde vou. Você sabe aonde vai? Com certeza também
não. Coisas do futuro – mantenedor de segredos... Melhor esperar que o tempo me
alcance na hora exata em que os pássaros deverão cantar. Se não sei aonde vou,
seja lá o que for, há que caminhar para qualquer direção. Parar, nunca. E que
você também não pare de seguir o seu caminho e prospere. A vida está lá,
adiante, esperando que cada um se atreva e viva com energia. O rumo em que
persigo a mim mesma está à frente. Você também se busca, não é? Devo
alcançar-me em algum ponto. Você também. O ponto em que o homem, coitado, só
tem a si mesmo. Tem a si e a fé em Deus.
O que a
noite escura esconde? O ano novo e suas possibilidades - todas- boas e não tão
boas. Todas, sob chaves secretas, a serem vividas e vencidas. O que importa é
que haverá amanhecer na sua e na minha vida; pássaros e relógio marcando os
segundos imponderáveis. Dia novo, como é todo dia; ano novo a cada calendário
que se fecha, ou a cada calendário que se abre. Caminhei sob as estrelas do Réveillon
pedindo que se minimizassem as dores das guerras, porque nada temos de
gladiadores. Ao menos não deveríamos ter. Caminhei proclamando as virtudes e as
bondades que nos tornariam bem mais felizes...
Andei procurando poesias para o final e para o começo de ano. Encontrei
a suavidade das palavras ditas aqui e ali, na imaterialidade das mensagens
virtuais, cuja beleza perdura nos lábios por discretos segundos e logo se
dispersam na brevidade dos instantes. Busquei neste alvorecer de ano a declaração
permanente da paz, interrompendo a violência, a morte, o desamor, o desânimo, a
desesperança, a guerra... Persegui a beleza real, a generosidade possível, a
consistência de palavras pacificadoras que aplacam a angústia do coração e o
grande temor do futuro. Recebi algumas ternuras dos versos mais tímidos e
sinceros, que eu mesma procuro distribuir a quem me lê; aquela ternura que
temos conosco, que se propaga mansamente com um simples sorriso, uma discreta
saudação, um elogio, um aceno de mão, um incentivo e um olhar de esperança. Bem-vindo
futuro!
Numa viagem no tempo presente e passado
que se misturaram por breves segundos nos céus de estrelas do Réveillon, encontrei
um caminho para aguardar o tempo com sabedoria, entregando flores.
Que venham os homens dispostos à Paz e
que distribuam flores.
Bem- aventurados os
pacificadores...
Valéria Áureo
02/01/2015