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domingo, 30 de novembro de 2014

Chaves Chaplin

                                                Fonte: Internet





Lá se foi o Chaves, Chaves, Chaves!...

O genial Roberto Bolaños criou um indefectível personagem, elo perene entre as gerações. Na interrupção das ruas das metrópoles ensandecidas, acende-se a luz da vila mais famosa do mundo, para que a fantasia e a paz inundem as casas. É um momento de paz e alegria. Toda cidade é igual na sua luta diária ou na frieza de concreto, mas a Vila de Chaves é versátil, vibrante e eterna. A genialidade do criador de Chaves deixa um registro para a história do humor televisivo com características irretocáveis: humor limpo, sóbrio, inocente, pedagógico, que pode ser visto por todos sem nenhum constrangimento. Um programa para toda a família. O menino ingênuo, arteiro e trapalhão que vimos atravessar as gerações e a todos encantar, toma hoje outro rumo. Simples como é a infância dos meninos que brincam com caixas de sapato, lata de massa de tomate, barbante, bola de sabão e pião, parte o menino para o seu destino.

Quanta inocência, sem apelos e sem subtextos que infestam o humor atual e que tanto nos envergonham. Ele é cândido, é puro de coração e é compreendido e compreensível em todas as classes sociais. Ele dignifica a criança, porque a trata com muito respeito. Chaves é o menino humilde, que revela o melhor lado da infância; que deseja o que o menino rico tem, sem saber que o mundo é feito de diferenças. Não inveja, mas deseja, na incompreensão infantil de que há diferenças sociais, os brinquedos do amiguinho. Para ser feliz como Chaves não é necessário ser rico; basta ter alegria e nobreza.  A ingenuidade era doce, angelical; ele catalisava todos os afetos do público. Assim hoje se tornou um ícone.

Por que nos comove tanto? Porque nos faz iguais; faz-nos pertencer à Vila, nos faz conviver intimamente com todos os moradores. Temos a mesma linguagem, os mesmos sentimentos e compartilhamos dos mesmos medos (que tal a Bruxa do 71?). Em algum momento conta um pedaço da nossa vida e revela as nossas histórias e segredos.  Fala dos amigos, dos vizinhos, do sabor raro do pão com presunto, ou do doce do Kiko e da goma de mascar da Chiquinha. Encanta-nos a Dona Florinda flertando com o Professor Girafalis. Rimos com o Seu Madruga, Senhor Barriga, Nhonho, Popis, Chapolim... Eles nos pertencem, mas pertencemos a eles também. Esta sensação nem é tão compreensível, porque a pobreza, no tempo simbólico da ficção era saborosa... A fantasiosa infância era plenitude (assim como na Vila do eterno Chaves), era humilde e angelical. Havia verdade, magia e poesia dentro do baú, onde se ocultaram os mistérios da origem familiar do personagem. Tudo era mais simples e verossímil. Um Chaplin.

Quem não se emocionou e ainda não se emociona com o Grande Chaves em seu barril? Não tinha casa, não tinha pai, nem mãe, nem família, mas era tão rico. Chaves arrancava o melhor de nós. Restaurava o calor da casa, o afeto perdido, a solidariedade, o beijo da mãe que já se foi, o sabor do bolo de aniversário na casa do amigo, a convivência do quotidiano. Coisas simples e banais. A inocência do pequeno abandonado é indestrutível; a infância perene que ultrapassou as décadas e abraçou crianças, adultos e idosos é imorredoura. Com humor para todas as gerações, Chaves teve o foco sempre na poesia do relacionamento humano. Chaves retratava o amor na sua essência e na sua plenitude. O personagem com as suas características mais geniais, usando a linguagem compreensível dos pequeninos fica registrado para sempre.

Chaves - Personagem universal, histórico; espelho de toda criança pobre, coração chapliniano de qualquer idade, de qualquer cidade do mundo. 
O gênio do humor se foi.

Fui um pouquinho Chaves na Rua Domingos Inácio, número 87. Fui muito feliz.

Autora: Valéria Áureo
30/11/2014