Deu-se que o sujeito sumiu...
Para ter
exatidão na narrativa e ser positivo sobre quem falo, o nome dele é Seu Lopes.
Assim evito qualquer engano de sua pessoa. Pois foi muita vez que fez isso de
desaparecer quando navegava o mar, coisa com que ninguém da família se
ajeitava. Mas isso não é hábito de agora, que é seu tempo de maturação e barba
branca; tempo de lavrar a terra e se meter lá pelos matos dos confins de Minas,
bem na profundeza do grotão, como se não quisesse mais ser avistado. É que já
foi ajeitado assim, desde novo, em navio e porto que faziam o danado do
marinheiro perder o rumo de casa, à custa de muitos meses sem mulher. Já
maduro, abandonou o mar e dedicou-se à terra, mas não abandonou os vícios.
Já que o sujeito sumiu nas andanças
e não deixou paradeiro, não custa nada averiguar se ele foi picado por cobra
jararaca ou cascavel, no sítio de Santa Bárbara, pois dizem que “tem” lá uma
quantidade capaz de fazer uma desgraceira nas pernas do cabra. Seu Lopes,
precavido por sinal, deu por usança andar com botas de cano longo, por questão
de cuidado, temente à rastejante, cujo nome não repete, por respeito e
tradição. Mas teve que largar às pressas a tal medida das botas de cavaleiro,
porque os pés foram inchando, inchando, inchando, preocupando sua cabeça com
dúvida da qualidade do coração. Deu receio de estar doente. Livrou-se das botas
num canto do quarto e o inchaço desapareceu.
Lá nas terras os cupinzeiros iam
sinalizando as lonjuras do seu domínio, competindo com o sansão do campo; a
coruja na grota do cupim, piando e fazendo ninho, vigiando os domínios do novo
dono, enquanto ele metia o chinelo raso no lamaçal, só para espreitar o
tapecuim e arejar os dedos. Vistoria de qualidade, vigilância de cada palmo de
terra, da rama até a raiz, a cada planta pedindo que se diga: benza-a Deus,
para afastar o mau-olhado. Homem cuidadoso no trato com planta e bicho, acima
de tudo, por pura justeza de afeição; já com gente nem é de muita paciência,
porque muito sujeito vivo nem tem serventia pra viver. O tal que não vale o
prato que come ele nem atura conhecer. Tem pouca tolerância com esse tipo de
cidadão.
Talvez Seu Lopes tenha sumido lá na
direção de Lima Duarte, depois de arrodear o Pomba, onde foi ver um caboclo bom de fazer móvel; o tal
marceneiro Zé Mateus, engenhoso, ciente e dono de muita madeira de lei, a quem
ofertou uma cafeteira italiana, para ter com ele uma amizade e boa ocasião de
prosa e café de qualidade e bastante calor; isto tudo porque café frio não
presta, de jeito nenhum; nem a conversa apruma e vai adiante com café
frio.
Estreitou-se um companheirismo fraternal
de instante, na encomenda da porta de jacarandá; uma para a entrada da sala, de
moldura em arco, lateral de vidro e umbral de bom gosto, porque tem habilidade
para escolher coisa sem nenhuma rudeza. Quem viu diz que é lindeza de fazer
cobiça... E ainda mais; encomendou por muita consideração e apreço ao
marceneiro as oito cadeiras de espaldar, as seis banquetas e uma prancha para o
bar; uma estante e uma mesa de jantar, de mimo para a mulher com quem vive.
Questão de lhe fazer um agrado; um apreço que tem só com ela, com nenhuma
outra, porque aquela é a dona do lar...
Pode ser que tenha sido tocaiado na
curva do mata-burro, por questão de peleja; coisa nascida na questão de pouca
água de serventia em suas terras e escassez de boa vontade de quem lhe vendeu o
terreno. O cabra diz que não tem água com fartura e a seca é grande. O tal do
Seu Nego, empregado que cuida da fazenda vizinha, diz e desdiz a coisa toda,
estremecendo os lábios numa evidente aflição de velho roceiro intrigado com
tanto atiçamento na calmaria de criar tilápias. Água tem... E muita! Mas a água
vinha da fazenda vizinha, cujo dono vendeu as terras para Seu Lopes, prometendo
fartura e agora que já tinha vendido, andava emburrado. Muita água. Coisa
novidadeira para quem só criava boi. O mais que Seu Nego faz é abrir e fechar a
água que serve ao Seu Lopes, assim evitando embate. Pois numa infeliz
carraspana, além de abrir a bica de água, também abriu o bico com a tal
Marilena, assunteira das boas. Espalhou com ela e quem mais, sabe-se lá, que o
patrão tem uma amante. Alastrou a conversa atrás de portas e janelas, pela
fazenda, qual fogo em estopim; a empregada enredou a trama com fios de cabelo
de mulher em travesseiros... Mas o que a moça visitante deixou foi aroma de
rosa. Agora a criada diz que falaram, ouviram dizer e contar entre cochichos,
que a Dona das ultimas sentimentalidades do patrão vai e vem de vez em quando,
de visita encoberta em mantas. Pois então, a intriga se esparramou feito leite
no chão... Marilena, enxerida no caso, garante que a Dona deixou pistas; que a
moça veio amoitada e largou rastro na passagem. E a pendenga aumenta todo dia e
se alimenta de boca em boca, aborrecendo o patrão que não tem papas na língua e
muito menos paciência e juízo pra conversa fiada e diz-que-me-diz. Pode até
puxar arma pra convidar o macho que tenha coragem e atrevimento de prosseguir
com a narrativa do episódio de infidelidade e afeição com outra mulher. Ele,
logo ele. Discreto e calado e que não dá confiança a ninguém. Nada de
divulgar suas intimidades e seus chamegos e muito menos os seus paradeiros. O
patrão já estava agastado com toda essa conversa de língua de trapos. Mas que povo
encrenqueiro! Suspirava...
O sumiço pode ter ensejo na questão
do caseiro, que é sujeito sonso e acabrunhado e com quem Seu Lopes se
desaprumou na conversa em um dia desses. O agregado é matuto de pouca fala e
obediência e de menor decisão. Cidadão de tez escurecida de sol, cara de
desinfeliz quando está ocupado com sua obrigação de molhar planta. Faz de tudo,
mas com desenvoltura modesta, desde que não lhe imponham coisa contrária à sua
predileção: fazer do costume que sabe, conforme aprendeu vendo o pai na roça em
Barbacena, sem muita ordenança na cabeça ou atenção. Indisposto para aprender
do jeito que tem que ser. Sabe coisa de serventia pra planta e pro chão; mas
coisa muito pouca... E nem quer aprender mais, porque isso cansa a cabeça, ele
diz. Aparvalhado no trato, mas arrogante de posição, porque de humilde só tem o
feitio e o falatório de cabra de pouca instrução. Diz que doutor não sabe nada,
porque quem cura é Deus, no que, em muito tem razão, mas médico faz falta
também. É que o sujeito fica demente na questão de saúde dos filhos, por quem
morre por dedicação e zelo. Não aguenta ver ninguém maleitoso, que chora como
criança abandonada pela mãe. Nessa ocasião falta ao trabalho e desorienta os
sentidos. É um homem de crença. Quando está nublinando, no seu dizer caipira,
ele se ajeita na foice com medo de onça que vem beber água. Depois de se benzer
prefere mesmo um facão na parecença simplificada de resolver a vida com
bravura, ganha-pão e reza. Certo é que para a labuta não tem muita serventia,
mas por comprometimento e necessidade de todo homem honrado diz que trabalha de
sol a sol e prega a palavra de Deus. No embornal vai a Bíblia, na ideia
atarracada vai a foice e a devoção.
Desinteligência houve entre o
empregado e o patrão... Briga de pouca abrangência seria se não perdesse a
ocupação de caseiro e homem de confiança; coisa que levantou a satisfação da
cidade quando se lhe tirou a chave do casarão. Gente que não suporta a vitória
alheia deu-se por muito contentada com a perda de sua ocupação. Lá se foram o
bom salário, o aluguel, o dinheiro da farmácia e a disposição para sentar praça
em lugar decente e ganhar a vida com honradez. Desavença com o empregador que
desvendou seu caráter no soco que ele deu nos queixos da Dona Maria, quando
esta lhe cuspiu na cara; aliás, muito bem merecido o murro, porque a isso ela
fez jus, mesmo sendo mulher. Aquela miudinha já tinha dado cabo de peão, com
malícia e fio de facão. Picou o sujeito todinho num golpe certeiro. Só anda de
faca na cintura e desafia homem e mulher. Gostava de se fazer temerária.
Desaforada! Valeu-se diante dele de ser uma fêmea atrevendo desafiar homem
brabo e recatado nos costumes. A tal se meteu em sua vida, por gosto e
malqueirança e inveja de fazer gosto. Pobre caseiro! A dona deitou falação na
vida do roceiro que, daí por diante, só deu pra trás, fazendo intriga com a
família, ameaça e cantilena de delação de seus erros do passado; pronta pra entregar
tudo para o patrão. O tudo que ela dizia era nada... Asneira pouca, aliás,
coisa pequena; apenas questão de preguiça dele, erro sem gravidade, porque
honesto ele sempre foi e dava conta do serviço; no jeito dele, no tempo dele,
mas dava. Se não dava conta do serviço em uma hora, dava em outra e tudo ficava
pronto. Pura bisbilhotice da megera invejosa que custou ao pobre o sossego e a
prosperidade. Daí por diante, a vida do caseiro só deu pra trás.
Depois disso o desgraçado ajuntou mulher
e três filhos melequentos no velho fusca “torovão” azul e caiu no mundo. Da
fartura à eira nem beira, num só baque, tudo desceu enxurrada abaixo, por conta
do palavrório da Maria, que devia ter um amor enrustido pelo infeliz, a ponto
de acabar com ele. Êta muié ruim... O coitado do empregado, tão temente a Deus,
levou amargura e olho-gordo da inveja alheia, pesando sobre suas costelas a ira
de Eva; invídia de vê-lo tão bem situado. Uma cobra! Por pouco tempo teve um
trabalho proveitoso que enricou sua vida em utilidades; a mulher fazendo luxo e
gosto com máquina de lavar roupa e fralda descartável. Ele mesmo, de casa boa,
botina, se arranjou com bicicleta, relógio e rádio gravador, apadrinhado pelo
patrão. Diz que o rádio é serventia para o ministério da religião, porque é
pecado ouvir música ou ver televisão; diz que é tudo coisa do demônio...
Aquilo foi
demais para a cobiça do populacho que crescia os olhos pra cima dele. Vida boa,
prosperando no sítio... Quem diria... Aquele atoleimado... E ainda dizendo que
um dia seria pastor. Pois o povo não aguentou; e o povo danado a falar, falar,
falar. Imaginem... Pastor! Até alarde de recreio no campo, um besta... Pois é,
repetiam aqui e ali que o caseiro deu de levar a molecada toda, o pai, a sogra,
o cachorro e a mulher; tudo enfiado no velho fusca, para fazer uma galinhada no
domingo, coisa, aliás, que contrariava Seu Lopes e despertava a inveja da
inconformada Maria e o resto da cidade. Vinha tudo empoleirado no “torovão”
azul, fazendo algazarra pela poeira da estrada, mesmo a muito contragosto do
coitado do patrão. É que não tinha sustentação a reclamação do senhor de não
querer o povo todo embocado no sítio, porque o cabra nem era dono do seu
querer. Tudo cabia na decisão da sua mulher... Eta muié mandona! A dona
insistia em dia de domingo e lazer na preguiça, como fazem as patroas. Mas só
depois da reza no templo, porque homem que se preza é respeitoso a Deus. E o
homem obedecia.
Foi-se afinal o caseiro, tão pobre
quanto veio depois da celeuma instaurada. Chamado pra briga no braço, ou do
jeito que tivesse valentia, o dito recuou de prosseguir na provocação da Maria,
armada com muito ódio e um facão. Foi-se desaprumado, humilhado no desalinho da
calça amarrada com um fio de pobreza. Maria finalmente sorriu. Maria riu.
Gargalhou! Não teve jeito; conversa vai, conversa não vai, o dia chegou
e, para sua desgraça, o matuto foi trocado pelo primo do patrão. Largou o
rádio, a bicicleta e a ilusão. Eta povo de língua grande!
O caseiro foi embora, mas antes fez
questão de apertar a mão de Seu Lopes e lhe prestar fidelidade para o resto da
vida. Tinha suas razões para gostar do homem. Se precisasse, para qualquer
coisa, era só chamar. Disse que procurasse por ele lá em Dores do Turvo,
no sítio do Matias. Matias ia dar conta de seu paradeiro. Foi-se o caseiro e
chegou o primo.
O primo era um
sujeito maneirado de trejeitos e falatório apressado, mas vagaroso no pensar e
no agir. Isto pode ter dado causa à intolerância de Seu Lopes, que já estava
muito cansado de falatórios e confusão no sítio. Era uma coisa, era outra e não
davam descanso. O homem não tinha mais paz na vida e já começava a sentir a falta
do mar. E assim ele despediu o caseiro e acolheu o primo que escondia sua
natureza no sorriso ardiloso...
Pois não é que o fulano de cidade grande,
ruivo e de sardas no corpo inteiro, desarticulado no baixo porte e nos
movimentos, desalinhado nos dentes, não se ajeitou na roça? Pois é! Não se
ajeitou, nem por insistência, nem por destinação de conforto que o parente
ofertou a ele. Pura misericórdia de quem o acolhia, mas o danado do cabra era
de vontade curta para trabalhar. Não tinha esforço para enfrentar o chão. Só
via rede e viola. O senhor Lopes, com quem o primo nunca teve parecença, deu-se
por pai do indivíduo, só para ajeitar a vida do infeliz, por devoção à família
e caridade aos parentes mais desvalidos. Deu salário, moradia, conforto de
cidade pequena e tranquila e uns por fora pro camarada se distrair... Mas o
cara foi arranjar desafeto naquelas cercanias, achando que a vida estava muito
sem graça, parada e morna naquelas distâncias de mato alto. A mão do sujeito
era lisa feito mão de moça e secava tudo o que ele tocava. Morria o mato,
morriam as plantas, esturricavam as flores, definhava a cerca viva. Nem o capim
do pasto aguentava. E o danado não se ajeitou de jeito nenhum na roça.
Enfiou-se na Igreja, pois muito pouco se dava com as terras e suas exigências
de trato. Porque terra demanda cuidados, mãos grossas, apego e devoção e o
citadino não tinha uma coisa nem outra. Sofria de indolência e dores no corpo e
não tinha a mão benta para acarinhar o solo e as plantas. O engano foi ter ido
para a roça com intenção de plantar buchas para negociar em São Paulo. É que o
rapaz não tinha nenhuma dedicação ao serviço e nem boa vontade em ser grato ao
parente. Depois de mês e pouco rematar que a terra não era jeitosa pra tal
espécie de planta, o fulano se desafeiçoou da obrigação, dando graças a Deus e
abanando o chapéu de palha. Pois é, enfiou-se na igreja, mas não foi por
devoção ou temor a Deus. Muito fervor mesmo foi por preguiça. Preferiu reza e
violão na cidade o dia inteiro, deixando a terra do primo Lopes ao abandono,
enfraquecendo as ideias do empenho de acordar cedo, regar, cuidar, ajeitar, capinar...
Deu-se por satisfeito com a vida de cantador, rezador e andarilho.
Para Seu Lopes foi grande a
decepção de ver o sujeito encostado, tocando viola, bebendo como um gambá e
promovendo maledicência com satisfação na cidade, enquanto as plantas secavam e
morriam na roça. O jardim da frente do sítio estava acabado. Nem um talo verde
brotado no chão. Nem uma flor, nem grama, nem mato, nem capim; não sobrou nada.
Nada mais nascia naquele chão. Tudo esturricado. Eta, primo! Pior que tudo era
o parentesco que unia os dois na mesma raiz de família. Vai que o povo acha que
é tudo farinha do mesmo saco... Para agravar o desmando, bem aleitado na
cachaça, o primo deu de querer alisar uma dona respeitosa que nunca conheceu
homem. Partiu pra cima das virtudes da moça querendo invadir as intimidades da
donzela e profanar sua pureza na reclusão da sacristia. Cometia dois crimes num
só desaforo de desrespeito a Deus e aos homens. Era isso mesmo, tudo errado em
um desatino. Fato impuro, sórdido e pecaminoso, dobrado no grande atrevimento do
forasteiro, que ofendeu Deus, a cidade e todas as mulheres decentes. Evento que
não merece tolerância e indecisão da parte de ninguém. Era uma questão urgente
de se ajuntar todos os homens do lugar e lhe arrancar fora as partes com
bastante vagareza, para ver o cabra pagar e chorar, antes de morrer... E que o
padre não ficasse sabendo do justiçamento! O sujeito tinha se atrevido com
coisa séria. Só lhe restava escapulir no meio da noite, para não amanhecer
morrido de foice ou facão. Era o que o primo de Seu Lopes pensava fazer...
Por conta de tanta contrariedade no
sítio, Seu Lopes, do jeito silencioso que sumiu por quinze dias, também deu
remédio na sua desaparição e voltou... Calado, arredio, sem gosto para muita
conversa. Não se conformava em saber que um parente seu tinha violado a castidade de Dona Mocinha. Retornou sem qualquer aclaração dos ocorridos nas suas terras,
acompanhado de um cachorro que vive guardado na sua mais alta consideração e
nas suas confidências... Coisa amorosa de repartir com o cachorro o mesmo
prato, a afeição, as conversas, os segredos e o mesmo canto para dormir. No
mais, anda mudo e taciturno.
Dizem que ele mesmo deu solução no
assunto, porque não aguentava mais tanta falação e porque nessa vida ele admite
quase tudo, menos desrespeito à mulher moça virgem. Ainda mais ofensa de gente
do seu sangue e dentro da igreja. Não! Não era farinha do mesmo saco! Não podia se misturar com um sujeito vil, como o primo. Só
se sabe que antes de voltar para casa, depois do inexplicável sumiço, Seu Lopes
deu um pulinho no Pomba, procurando por Dona Petrina, uma boa rezadeira de desmanchar quebranto e mal agouro; diz que foi lá fechar o corpo. Depois, em Dona Eusébia, cidade vizinha, passou pra comprar umas plantas novas
de sua mais nova estima. Tudo mudinha tenra e promissora de muito bom viço, já
brotando em botão. Resolveu refazer de uma hora para outra, sem nenhuma
explicação, os canteiros do jardim, com novas flores. Levou as plantas, mas não
precisou de adubo. E no novo jardim Seu Lopes só plantou flores brancas...
Muitas espécies de flores brancas, sua nova predileção. Flores de luz, flores
de paz, tão alvas, tão claras e virginais...
O tempo foi
passando, passando e o jardim floresceu; de morto passou finalmente ao verde
reverberante de lindas flores. Seu Lopes repetia invariavelmente a quem fosse
curioso e viesse perguntar pelo viçoso jardim... Bonito, não é? Gabava-se. E
dizia de suas crenças nas flores, no que afirmava estar bem certo: melhor
planta e cachorro que certo tipo de gente!... Tem sujeito que não presta
nem mesmo para viver; não vale mesmo a comida que come.
Estranhamente todas as flores brancas
nasciam com uma nódoa vermelha, parecendo uma pequena mancha de sangue. Nenhuma
delas era totalmente branca. Mas, isso pouco importava. Seu Lopes dizia que a
réstia vermelha até deixava as flores mais bonitas e raras.
O caseiro, para espanto e inveja de
alguns, também voltou. Seu Lopes afirma que é o único em quem pode confiar de
olhos fechados e o mantém dia e noite ao seu lado. A ele compete levar as angélicas para Dona Mocinha enfeitar o altar da Igreja.
Pois então. Deu-se que o sujeito
sumiu!...