Apresentação

Total de visualizações de página

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Geometria






          Poderíamos pensar que o amor é facilmente decifrável, exato e geométrico. Poderia ser feito de espelhos, linhas, curvas e sinuosas; uma sucessão de pontos a se perseguirem nos enlevados toques e carícias de montanhas e ventos. Poderia ser problemático, matemático, calculável, resolvível, como uma equação de segundo grau. Poderia ser removível, decifrável? Impossível?
 Ah! O amor tem muito mais do que os traços e embaraços de muitos fios elétricos enredados pela cidade eletrocutando corações. O amor é pane! Sim, “é fogo que arde” ... Lava incandescente descendo o morro. O amor pede socorro!O amor é aflito!
O amor começa com um ponto, dois, três, reticentes e, ao se darem conta, duas almas embriagadas correm tangenciando o infinito. Dois pontos extremos extrapolam o desenho só para se encontrarem e, ao se verem, um grito! Ah! Afinal! Um beijo. Fugaz abandono do plano exato, do fino traço arquitetônico e, então enamorados, dois rabiscos assumem forma, volume e se compõem no sólido e no insólito. Ocupam finalmente o espaço e vão da linha reta às mandalas no Egito..
Dúvidas, dúvidas, dúvidas e, desastradamente, outros pontos desconectados perseguem os dois pontos originais, amantes e afins, outrora felizes, ora ameaçados por mais um ponto fraco, que interfere nessa dualidade monolítica e sacramentada. O que era para ser um projeto (de vida) de duas forças iguais, em um esboço equilátero, equidistante, equivalente, na perspectiva de um afetuoso milênio, passa a ser, miseravelmente, para os dois, um triângulo desengonçado, esquizoide e neurastênico. Ah! A geometria do amor...

Autora: Valéria Áureo
In: Entrementes Corações