Em um
momento tão delicado em que o mundo sofre o impacto de atentados, de ameaças de
explosões, de ataques de bombas atômicas e armas químicas, ainda somos levados
e poderemos até ser destruídos pela mais "inocente" das armas: a
fofoca. E, parecendo inofensiva, ela é levada pelo vento e se propaga como
labareda. Difícil é apagar a chama da mentira.
A
mensagem de hackers no Twitter de que o
presidente americano Barack Obama havia sido ferido na explosão de bombas na
Casa Branca, fez com que por alguns minutos as ações nas Bolsas de Valores dos
Estados Unidos caíssem drasticamente, o que gerou um efeito cascata em Bolsas
do mundo todo. O fato serve como advertência para os perigos de usar como meio de
informação as mídias sociais, seja para quem investe na Bolsa, seja para a vida
pessoal, do cidadão mais simples ao mais famoso. Estamos falando em prejuízo
econômico e até em conflitos políticos e sociais, decorrentes de informações
inverídicas e imprecisas. Mas, há outros prejuízos que não podem ser
compensados.
Fofoca e
maledicência, falsas informações e boataria sempre fizeram mal e, desde que o mundo existe, esta prática é
constante e perniciosa. Por acreditar em uma informação inverídica, cochichada discretamente em sibilantes notas
e veneno mortal, dada pela serpente, Eva perdeu o Paraíso. Pior, além de
acreditar no "disse me disse" levou consigo Adão. E devemos
considerar que o mundo era habitado apenas por duas criaturas, o suficiente
para a desavença no Genesis. Foi a primeira intriga que gerou danos
irreparáveis, pelos quais pagamos até hoje. Por causa disto carregamos a nódoa
do pecado original. E, além do mais, isto se deu tão logo o homem foi criado.
Nem houve muito tempo para grandes conjecturas e especulações. Mal havia se
instalado e Adão já foi levado pelo
boato de que poderia levar vantagem, caso comesse a maçã. Nascia a cobiça, a
insatisfação com aquilo que já tinha e que deveria ser o bastante, afinal, o homem estava no Paraíso. O prêmio por acreditar na fofoqueira serpente foi
a perda dos privilégios de uma vida
plena e sossegada no Jardim do Éden.
Hoje o
que vemos é a terceirização do pensamento, quando não se pensa mais pela
própria cabeça, mas apenas pelo que se espalha na rede. Cuidado com tudo o que
se lê na Internet, pois podem ser informações imprecisas e perigosas. A terceirização
do pensamento humano gera o que ouso chamar de fofoca cibernética, em que a
pessoa se deixa levar por aquilo que ouviu dizer e espalha em segundos, apenas
retuitando, nas pontinhas dos dedos, nem
sempre tão inocentes; muitas vezes é mesmo com muito veneno. A mais recente intriga
diz respeito ao suposto comportamento desrespeitoso do ator Rodrigo Lombardi, o
protagonista de Salve Jorge, a uma reporter. Boato desmentido pelo artista e
seus advogados. Infelizmente ele sofre os efeitos da mentira e a imagem está
manchada. Para reverter isto, só mesmo o tempo e exaustivo trabalho de
reconstrução.
Os
consumidores de notícias tem que diversificar a fonte... Buscar a verdade dos
fatos e das informações, o que Eva não tinha como fazer, pois só contava com a
versão da víbora... Com bom humor, podemos dizer que a primeira terceirização
do pensamento foi provocada pela serpente, contando com a volubilidade da
mulher. No entanto o assunto é sério. Atualmente as mais recentes intrigas e
falsas informações são levadas em segundos nas redes sociais, provocando o que os
especialistas chamam " efeito borboleta ". A informação voando e
arrastando tudo que vem pela frente, como fogo em palha. Assim se tornou prática
comum e irrefletida a destruição da imagem alheia, a credibilidade e o carater
de uma pessoa. Isto é obra da irresponsabilidade e falta de escrúpulos
daquele que propaga a informação de forma inconsequente. Seja pela Internet,
seja pela fofoca na praça da cidade, ou sentado no banco da igreja, enquanto se
espera a missa, as falácias se espalham. Só tem um jeito: Salve - nos, São
Jorge, do dragão da mentira!... Resta saber se São Jorge poderá apagar o fogo
que queima a imagem do ator.
Valéria Áureo
23/05/2013
Texto publicado em O Imparcial de Rio Pomba