Ela
passou pela última vez a calça de linho branco do marido; tinha as faces rubras
em duas brasas incandescentes... O calor do ferro de engomar descongelava
aquela dor no peito cheio de mágoas, apesar do nó rente na garganta
apertando-a; finalmente estava livre do espectro da primeira namorada do
marido. Ela e sua presença inefável. Aliviada, de certa maneira feliz,
fez o vinco da calça, até o tecido soltar fumaça, como ele exigia. Então
percebeu que as bainhas estavam levemente puídas, tanto ele tinha dançado, sem
ela; mas ninguém iria perceber aquele detalhe encardido em sua vestimenta e
vida. Agora, nada mais importava.
Os
amigos buscaram o terno de linho branco e ajudaram o companheiro de bailes e
farra a se vestir. Àquelas horas todos já estavam atrasados. Ela também
vestiu-se, sem nenhum adorno, sem maquiagem e sem nenhuma pressa. Só um
alívio. A cerimônia na igreja não deveria tardar, mas não podiam começar
o ritual sem ela.
A
Igreja estava enfeitada e cheia. Não demorou e o espectro da rival entrou
vestida de um branco levíssimo e fulgurante como um raio de luz; ela era tão
leve e diáfana, que ninguém percebeu sua entrada; ninguém a viu chegar, como
uma escultura de cristal e se deter ao lado do altar; ela parecia uma noiva,
mas ninguém se ergueu diante ela. Mas, o morto logo sorriu e se levantou.
Sacudiu as flores e deu o braço á imagem translúcida. Ela saiu radiante,
abraçada com aquele que lhe fora prometido na eternidade. Os dois saíram a
trocar caricias, dançando uma valsa levíssima que nem seus pés tocavam o chão.
Ambos flutuavam sobre as nuvens, sem que alguém se desse conta daquele raio de luz de tamanha
felicidade.
Autora: Valéria Áureo