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domingo, 5 de abril de 2020

Eu amo você! ( Quarentena)



Quarentena! Finalmente podiam se lembrar, cada um por si, das muitas coisas de que mais gostavam. Eram tão mutilados pelas asperezas da vida, que consome o amor verdadeiro, que mal se falavam. Isso por causa do distanciamento de muitos anos, casados, calados, cansados, vivendo no torpor de amarguras e decepções.
A quarentena os confinou na sala, no quarto, na cozinha, na varanda... Um bem perto do outro, como costumavam ficar, quando eram jovens. Ele esbarrou nela, de maneira sutil e se desculpou... Ela riu timidamente, sob o calor da respiração dele, como se nunca tivesse sido tocada. Ele se lembrou que gostava que mexessem em seus cabelos... Suspirou e riu de volta para ela. (Sabe onde está o meu celular?)...
Ela se lembrou do calor da pele dele. Propôs uma ousadia de se assentar em silêncio na varanda, olhando para o mar, de mãos dadas com ele, enquanto acariciava seus dedos. Quando tempo não se tocavam... ( O celular está na mesinha, do lado da minha bolsa!)...
Quarentena! Os dias se arrastando e eles tirando as camuflagens das mágoas em pequenas dosagens: um dia um sorriso, no outro uma voz mais meiga, e depois um leve beijo. Agora riem juntos e acham graça em tudo. Enamoraram-se como se fosse ainda amor à primeira vista, como da primeira vez. Redescobriram as delicadezas que o amor esconde sob as luvas e máscaras.
( O celular está descarregado!)...
E, num arroubo de paixão, como um rapaz de vinte anos, ele a tomou nos braços e disse: – Eu amo você, garota!

Autora: Valéria Áureo
In: Entre Mentes e Corações