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sábado, 11 de julho de 2015

Onde estão as borboletas ou A leveza da Inspiração







 Bem tarde da noite, minha mãe me liga de casa e, entre muitas saudades me pergunta: onde foram parar as borboletas, minha filha? É que a cidade está coberta de flores nas acácias, quaresmas, flamboyants. Tudo aberto em primavera,  mas não vi mais borboletas. Na hora até me assustei e senti-me responsável pelo desaparecimento delas. Teria eu aprisionado todas, como já fizera no passado?...
Formigas, moscas, borboletas e o que mais há no mundo para se ver. O que eu pudesse pegar eu colecionava com a avidez dos meus olhos e a agilidade das mãos, com pressa de quem quer guardar tudo para si. Um dia aprisionei muitas borboletas em uma caixa de tela fina, querendo guardar e eternizar o voo e a beleza delas. Não compreendia a fragilidade da vida e desconhecia a fugacidade da existência. Só pensava em guardá-las ao montes, da mesma forma que colecionava papéis, pontas de lápis de cor, botões e tudo que despertasse brilho nos meus olhos. Com o mesmo ímpeto aprisionei borboletas, distanciando-as das flores, do ar, da liberdade e voo, para retê-las para sempre. Jamais imaginei que se perderiam; ao contrário, pensava perpetuá-las como num quadro vivo. Só fui compreender que não se pode reter a beleza, nem a juventude, quando as encontrei caídas como pétalas no fundo da caixa. Antes lagarta repulsiva e crisálida, depois o leve inseto. 
Borboletas se comunicam por sons oriundos de suas asas, eu aprendi. Falam-se num tímido farfalhar inaudível, percebido recentemente por pesquisadores. Um som brisa na seda fina de suas asas coloridas. Mas era óbvio que deviam se falar. Nunca imaginei que qualquer criatura deste universo pudesse não falar... Ainda mais as borboletas, que têm tanto o que dizer sobre os campos e as flores e os voos sobre as cercanias e sobre meninas que correm para alcançá-las... Os homens se falam por palavras ou por ausência delas. Gestos, silêncios, olhos e lágrimas...
São muitas borboletas, oriundas de toda parte... Aprendi, depois de grande, sobre uma viajante borboleta, vinda das longas migrações do continente americano, num bater de asas que suporta três mil quilômetros. Incansável maratonista que vem do Canadá, em setembro, até as florestas de Pinheiros do México, onde chega, em novembro, exatamente no dia dos Mortos. Para os habitantes da região as borboletas representam a alma dos entes queridos, que retornam em revoada. Pois agora elas invadiram Portugal e se deixam ficar nas zonas de várzeas das ribeiras de Algarves, e sua presença já é suficiente para tornar a região mais bonita, onde se  confundem o inseto e a flor. Linda forma de eternizar as pessoas que amamos, imaginar que vêm nos rever, ao menos uma vez, disfarçadas em mágicas criaturas. Alguns as concebem estrelas perdidas na dimensão infinita do céu; assim são mais distantes. Prefiro imaginá-las borboletas, mais ao alcance dos olhos e das mãos..
 Tive uma caixa de borboletas amarelas, das que voavam numa tarde distante, no quintal de minha casa, sem saber do sentimento de aprisionamento e solidão. Não soube pensar nelas, só em mim. Eu era ainda menina e meninas só sonham, brincam, riem e algumas, como eu, aprisionam borboletas, observam formigas, dançam com moscas, se iluminam com vaga-lumes e se enternecem com joaninhas ... Hoje fico mais tranquila com minha forma de prestar atenção em tudo. Damien Hirst foi mais sábio e pintou diáfanas borboletas. Salvador Dali foi mais genial, pintou e eternizou borboletas em uma tela suave, leve que faz o coração alçar, perdido na transparência delas. Também eu desenhei tantas, e colori, e imaginei pousar em muitas cores e perceber tantos perfumes. Meu pueril fascínio pelo pequeno ser não me permitiu guardá-las para sempre, como os pintores souberam fazer. Eu, infantilmente, ainda tenho aprisionadas as borboletas que peguei. Embora não possam ser apreciadas como uma valiosa tela num museu, elas me permitem voar, voar, voar...
Bem mãe, já sei... as borboletas estão livres, voando nos azuis dos seus olhos.

Valéria Áureo   -  O Imparcial
31/09/2004

sábado, 14 de março de 2015

ENEM me explica?



                                                    Ilustração: Internet

          Organizando meu material literário tive a grata surpresa de encontrar documentos de meu primeiro prêmio literário, concedido pelo Âmbito Cultural Professor Joaquim Carlos de Sousa; datado de 21/9/1971. Lembro-me que a minha participação no concurso literário do Dia da Árvore foi uma iniciativa de minha professora de Português e Literatura, Madre Adeodata, a quem reverencio como um diamante raro que brilhava no universo acadêmico do Regina Coeli de Rio Pomba. Posso dizer que tivemos a melhor entre os melhores.
          Além de aulas de português, francês, literatura, nossa mestra ainda se incumbia de aulas de Moral e Cívica e de pesquisa orientada; trabalho a que ela se entregava todas as tardes na Biblioteca daquele educandário. Eu estava com dezessete anos e a minha timidez fez com que a professora, dedicada e atenta, apesar de minha relutância, inscrevesse meu texto em uma competição promovida pela Escola Agrícola de Rio Pomba. Uma disputa entre os colégios da cidade. Havia autores de outras instituições: alunos do Ginásio Estadual Professor Borges de Moraes, da Escola Agrícola e do Regina Coeli. Fazer jus ao primeiro lugar do certame e receber o prêmio das mãos do Dr. Geraldo, então Diretor da Escola Agrícola, e ler meu texto para o público, abriu-me os olhos para um sonho: quero ser escritora!
          Logo que vim ao Rio de Janeiro, dois anos depois, ingressei na Universidade Santa Úrsula e me dei conta de que eu tinha recebido o melhor em educação acadêmica, chamando a atenção de mestres e colegas, pela facilidade com que acompanhava as aulas e entabulava considerações com os professores. Quando me perguntavam se eu tinha feito algum estudo fora do país (minha professora de linguística Mirian Mata Machado insistia em saber se eu tinha estudado na França) eu dizia que tinha estudado no Regina Coeli de Rio Pomba, uma cidade da zona da Mata de Minas Gerais. Todos achavam graça no nome da cidade (diziam Pombá, afrancesando o nome) e eu seguia confiante nos meus estudos, sem me abater. Os créditos de meus conhecimentos eu sempre conferi à minha dedicação, ao Regina Coeli e à minha inesquecível professora Madre Adeodata, de cultura apreciável.
          O que mais posso falar sobre ela, além do ser humano especial e eleito por Deus para ser freira (dada a Deus, é o significado de seu nome) e professora amorosa e competente? Reputo à sua metodologia de ensino o meu sucesso, somados à minha percepção de que eu tinha a melhor professora do mundo e devia aproveitar. Assim, era natural e muito bem aceito fazer redações semanais, cópias, diários nas férias, deveres que implicavam em constantes pesquisas na Biblioteca do Colégio, onde ela estava sempre presente a nos orientar. Sim, meus jovens, tínhamos pesquisas constantes às enciclopédias, seguidas de cópias intermináveis; tínhamos deveres de matemática e português nas férias de julho. Tínhamos que resolver cem problemas de matemática, que eram passados pela saudosa Dona Geny e cobrados no primeiro dia de aula do segundo semestre; tínhamos que escrever o diário das férias, passado pela professora de português. E nada era visto como sobrecarga ao aluno que hoje (com o auxílio da Internet) se sente cansado, extenuado com uma tarefa. Ele não dá conta de seus deveres, nem mesmo se dá conta da necessidade e da importância deles. A explicação para o sucesso dos alunos de outrora é natural: aprende-se a andar de bicicleta, andando de bicicleta; aprende-se a nadar, nadando. Só se aprende a escrever, escrevendo.

          Hoje tudo se resolve com poucas palavras, porque o tempo minimizou os textos e a vida. Devoram-se as vogais e as palavras se resumem em incompreensíveis códigos e letras sem sentido... Sei! É preciso atualizar-se e acompanhar os avanços. Em poucas palavras, ou quase nenhuma, à moda dos jovens, vou tentar resumir: “tá difícil”. Já me conhecem, sou prolixa e me sentiria sufocada sem as adoráveis palavras e seus encantamentos de desenhos no ar, frutos do espírito criativo e da inspiração. Hoje, entre os jovens, a escrita está restrita ao Facebook, às mensagens nos celulares, num mundo paralelo  que vive com seu código secreto, sob o império do escárnio, do deboche, do desrespeito; está resumido ao maniqueísmo que se estabeleceu no embate do Bem versus Mal, em todos os setores, sem possibilidades de argumentação e audácia criativa. Ali cada um se julga o porta-voz do Bem. Ou se ama, ou se odeia e não há espaço para arguições e ideias.


        O que faltou para grande número de inscritos no Enem? Faltou a Educação à moda antiga. Faltou o aprender a fazer, fazendo... Faltou ao aluno arar, lavrar a terra, plantar e finalmente colher. O tema que abordava a publicidade infantil, dizia respeito à vida deles. A criança é o verdadeiro objeto e foco das campanhas publicitárias. Foi grande a dificuldade de se compreender a proposta do tema e falar a respeito com sucesso: a publicidade visa a atingir a criança e ao jovem que ainda não sabe diferenciar o conteúdo, da propaganda. Para ele tudo é uma coisa só. É a propaganda subliminar que os transforma em pedintes: pai!... Compra! Mãe!... Compra! Eu quero isto, eu quero aquilo. Sem que saibam, tornam-se os agentes mais ferrenhos do mercado de consumo e se tornam consumidores vorazes. Cria-se a geração de grandes consumistas embalados pelas propagandas “embutidas” no conteúdo. Eles se tornam algozes dos pais que, na maioria das vezes, não podem lhes dar tudo o que veem; e aqueles que podem, não devem. E fazem bem em não dar.
          Não se desenvolve a boa conversa, a bela escrita, o bom diálogo sem exercício e sem vontade de aprender. O saber exige investimentos contínuos e uma boa lavoura, constante e para a vida toda. O que se vê  normalmente é que tudo se resume a um amontoado de letras, digitados velozmente, constituindo um vocabulário que foge e fere o discurso formal. O resultado de todo este comodismo verbal, desta inércia mental, da lei do menor esforço linguístico, da informalidade, está revelado nas notas de redação, que avalia nossos estudantes. É preciso escrever, escrever e escrever...
          Saudações, Madre Adeodata, que me abençoou com aulas brilhantes, com exercícios constantes de redações; curiosidade, pesquisas, muito trabalho e grande amor à flor do Lácio.


Valéria Áureo
31/01/2015
         

sábado, 17 de janeiro de 2015

Do tempo do onça ao arco-da-velha e ditos... E feito!



                                                                        Fonte: Internet


Pois é, meu amigo, o mundo tem muito mais que o tempo do onça... E daí ao arco-da-velha é um pulo... Mas nem todos conhecem o pulo do gato, que escaldado tem medo de água fria. É preciso competência; apesar de gente capaz de dar nó em pingo d’água sem molhar as mãos, para discutir a questão da água no planeta. Água lava tudo, só não lava língua de gente faladeira, diria minha mãe. O assunto é sério e, no que diz respeito a todos nós, ninguém poderá dizer “dessa água não beberei”.
O Arco-íris é a ponte entre o real e o imaginário; um enorme portão que se abre para o infinito bem diante dos nossos olhos. Deixando o romanesco, tudo leva a crer que a Natureza resolveu vingar-se. Eis, pois, que se anuncia longo tempo de vacas magras, sem pasto ou água para beber. Vacas das poucas que ainda não foram pro brejo... (o que supõe água). Apesar das ameaças o fantasioso caleidoscópio nos fascina; pode ser que também ele tenha os seus dias contados. Tudo é possível. Está claro porque passamos a ouvir falar nos “excluídos climáticos”. Antigamente o que esperávamos depois das chuvas, das águas de março, não eram calamidades, mas um brilhante arco-íris. Ele representava, por um lado, a magia de um momento tão efêmero como a sua própria visibilidade; por outro lado representava o inacessível, pois, tal como o povo diz, a construção do arco-íris é um projeto maravilhoso, deveras desejado, mas inatingível. Conhecido no saber popular por arco-da-velha; é o que se diz da coisa inacreditável... A chuva é a "velha mijona" das pernas compridas. Não admira que o arco-íris, quando surgem as sete cores da refração do Sol na atmosfera da Terra, tenha provocado íntima relação explicativa com o mito maléfico da "velha". Diz-se que ela acabaria com toda a água do mundo. Tudo porque o arco bebe água dos rios e das fontes e pode secá-los para fazer chuva. A "velha" penteia-se calmamente e come pão mole no local onde o arco pousa. Então já sabe, meu amigo, a culpa da água acabar é da “velha.” Ela é o tal bode expiatório. Do outro lado do arco há quem diga existir um pote com moedas de ouro. Doce ilusão, quando o mundo real está tão desolador e a Natureza embate-se no grande duelo com a humanidade. Passaremos a desejar muito mais que ouro; um pote de água no final do arco-íris, certamente.
Ameaçados pela probabilidade de faltar água potável no planeta, melhor mesmo é estar de olho vivo, com um olho no padre e outro na missa, prestando atenção a tudo, sem perder nenhum detalhe do que está sendo dito pelos cientistas. Olhar para os céus para vislumbrar a verdadeira cor, parece coisa do outro mundo e que será tão impossível quanto enxergar o pote de moedas. Cuidado com a maneira como me tratam, está dizendo a mãe Natureza, pois “água mole em pedra dura tanto bate até que fura.” Do contrário vai-se ver o que é bom pra tosse, tendo que revidar ou dar um corretivo, tomar uma medida em represália a uma afronta sofrida. E não vai adiantar correr para onde o diabo perdeu as botas ou fugir para os cafundós-do-judas, onde-o-vento-faz-a-curva. Vai-se, com certeza, pegar o bonde andando pra lugar nenhum, quando não se der importância ao que tem sido advertido pelos ambientalistas. Lamentar-se não vai adiantar, porque águas passadas não movem moinho.
Quando a maré não está pra peixe, melhor esperar a tempestade passar. Agora não é o momento oportuno para descrença. O perigo é real. É, meu amigo, a lagoa vai secar! Nem vai adiantar ficar com olhar de cabra ou de peixe morto, com olhar inexpressivo, a ver navios, onde não há água. O mundo está protestando contra a irresponsabilidade humana. Mas, olho por olho, dente por dente é o que a Natureza nos diz categoricamente: - Danem-se, já que não me respeitam! Nem adianta mudar da água para o vinho, porque a questão é essa mesma. Estaremos literalmente fritos, marcados a ferro e fogo... E, numa justa questão de calor, nossa batata está assando. E, garanto, é no fogo mesmo; nada de banho-maria. Nessa hora muitos gostariam de se afogar em copo d’água. Mas, Quando Deus quer, água fria é remédio.
Na hora que a água acabar (bem na horinha da onça beber água) e que o sol tostar todo mundo, esturricando tudo que há, nem adianta mais tentar salvar a Terra de meu Deus!E, o que menos se vai querer é um lugar ao sol.
Como “dar água a quem tem sede?” Nem reza brava ou promessa vai dar jeito, se o sujeito insiste em ignorar o Protocolo de kioto... Em vão tentar evitar o olho-de-seca-pimenteira, (por falta d’água, será?)  desses “desnaturados” porque o dano já se deu e a fonte secou. Culpa de gente que tem o poder e joga água fria nos projetos de preservação ambiental. As pessoas adoecem, os animais morrem, as plantas murcham e nem estão aí para o azar... Não sei se pior a omissão que o tal de olho-grande... Quem tem olho-grande tem mau-olhado que só se resolve com banho de sal grosso. Mas, cadê a água pro banho? Melhor a pessoa estar de orelha em pé, atenta, vigilante, desconfiada. Do contrário será torcer-a-orelha-e-não-sair-sangue, porque ficará arrependida do que fez; ou do que deixou de fazer. Nada servirão lágrimas de crocodilo... Nem adianta chorar ou arrancar as calças pela cabeça, porque isso não é causa de pequena monta, de dor “por dar lá aquela palha”.
Cuidar da Terra agora e daqui para adiante é “obra - de Santa-Ingrácia”, obra de Igreja, onde há muita água benta, ainda... Coisa para se fazer rezando. Pode ir se preparando; é um trabalho que nunca acabará... Nunca chegará ao fim. Em relação ao mundo o esforço do homem deverá ser carregar água em dedais, para tentar encher os potes.
É preciso agir, sair correndo em socorro da Terra! A solução é ir de olhos fechados e entrar de cabeça na causa. Mas é preciso tomar distância de quem tem olhos de cabra morta, das pessoas indecisas, porque o momento é para agir, não mais para mera especulação. É preciso ter sangue no olho, qualidade de quem é valente, esperto, de quem não tem medo de nada e correr atrás do prejuízo. Antes tarde do que nunca. Eu sei: presunção e água benta, cada qual toma a que quer.
Com o olho no caminho fica quem está esperando alguém com certa ansiedade. Às vezes fico assim em relação ao que vai acontecer com o mundo; fico esperando um milagre. Ter os olhos maiores do que a barriga é a qualificação do guloso, cuja vontade de comer é maior do que o tamanho da fome. É coisa daquele que veio ao mundo só para consumir, poluir, destruir e nada fazer... Como se dono fosse ou quem tem rei na barriga. Muitos se desesperam e ficam na maior água... Não adianta beber, meu caro! Tenha fé que num abrir e fechar de olhos, se fará alguma coisa pela sobrevivência da humanidade, se o homem se der conta de que deve agir sem muito titubear, sem botar areia nos olhos, que é ato de quem usa de subterfúgio para esconder a verdade. É o caso dos que apregoam que se trata de sensacionalismo o aquecimento global... Esses discutem o problema rindo e segurando na mão um copo com água que passarinho não bebe. - Degelo da calota polar? Que é isso? Queremos gelo para o uísque, e pronto... Custar os olhos da cara, diz-se de tudo que está muito caro, caro demais. Caro é não poder pagar a conta da destruição global! Contraditório, não? Coisa de político desavisado que não sabe a que veio... Fica boiando, boiando, boiando...  Não consegue ver que onde há fumaça há fogo... Sem água para apagar. É pra lá que estamos indo: pra lugar nenhum, ou melhor, para o fundo do poço. Fundo do poço seco! Estamos dando com os burros n’água... Que água? Ou indo pras cucuias?!
 Olhos pidões são olhos de quem suplica, de quem pede sem falar. Olhos marejados d’água. É o que anda fazendo a Terra... Implorando para todos, antes que seja tarde, inclusive para os que têm olhos de pitomba, os olhos pulados, salientes, mas que, nos parece, estão cegos. Ter ou estar de olho vivo significa perspicácia de seu dono. Isto é coisa do pessoal do Greenpeace!... Que tem sangue nas veias, e não água, como muitos. Porque cego é aquele que não quer ver, ou é rei de um olho só.
Pinicar o olho é piscar, dar um sinal, namorar à antiga. Coisa de gente que tem amor no coração. São os apaixonados pela flora e flora, os que amam e preservam; os que fazem isso plantando e cuidando do meio ambiente. Outros nem querem saber...  Mas, quem planta vento, colhe tempestade. Os ambientalistas são nossa única esperança. São poucos, é verdade, mas, melhor pingar que secar.
 Quando se faz alguma coisa em pouco espaço de tempo, o que se fez foi feito enquanto o Diabo esfregou um olho. Foi o que eu fiz. Escrevi correndo, para alertar que estamos correndo risco... Mas arriscar um olho é aventurar-se pra ver se algo dá certo. Bem que eu tento, faço a minha parte, como muitos, sempre clamando pelas águas de meu Rio Pomba.
Alerta, governantes! Alerta, povo! Quem avisa amigo é... Abrir os olhos, além de ser uma advertência é também nascer para a vida, para o mundo. Fechar os olhos é morrer para o mundo e nascer para a Eternidade. Mas aí já será uma outra história com Deus (quiçá com o Diabo, e desconhecida trajetória), para quem vamos prestar contas e a quem deveremos dar satisfações dos nossos atos. A questão da água não pode ser do “arco- da- velha”, ou seja, questão inacreditável e inacessível. É pra já! Pra ontem...
Essa história me deu foi sede!
(A repetição do vocábulo “água” pela autora foi intencional. Trata-se de um recurso visual para chamar sua atenção).

Valéria Áureo para “O Imparcial”
 Rio Pomba    16/04/2007

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Instantes Poéticos



                                         
                                                         Fonte: Internet


           Tudo iluminado. Encontram-se no firmamento a esperança e o tempo de luzes. E, no exato instante de pés e areia se tocarem, já não mais há movimentos... Champagne, abraços, ondas, beijos, promessas e juras eternas. O ano e o instante em que acaba a contagem de 2014 acontecem juntos e se misturam. Impossível, nada para, porque já se deu o ano 2015 no imediato segundo da súbita revelação. Foi-se o passo, o instante, o fôlego, o sopro de um e já o começo do outro. É hora em que habito o presente e ele se desfaz passado, como o líquido sorvido com sofreguidão da mágica anunciação. Réveillon! Fogos!... Descalça no chão úmido e prateado em que o caminho se abeira comigo, vem a menina que me habita e está sempre absorvida com o tempo. Imponderável tempo. Esta incógnita e esta imensurável transitoriedade.  
Não me canso de olhar as possibilidades que o campo verde tem; ou mesmo o céu, o mar, a estrada, o rio e o deserto. Inventor de flores, eu escolho as cores que devem estar amanhã na paisagem; seja daqui, seja de onde você possa estar. Por ora devo preferir tons azuis... Ou não! Eles me falam de dores e saudades e o tempo é de festa... Você pode escolher a que preferir, enquanto eu não me decido. Quero que faça sol e é por isso que habito com calor os arrebóis que me projetam para alcançar aquela estrada que, por si só, me diz que não sei pra onde vou. Você sabe aonde vai? Com certeza também não. Coisas do futuro – mantenedor de segredos... Melhor esperar que o tempo me alcance na hora exata em que os pássaros deverão cantar. Se não sei aonde vou, seja lá o que for, há que caminhar para qualquer direção. Parar, nunca. E que você também não pare de seguir o seu caminho e prospere. A vida está lá, adiante, esperando que cada um se atreva e viva com energia. O rumo em que persigo a mim mesma está à frente. Você também se busca, não é? Devo alcançar-me em algum ponto. Você também. O ponto em que o homem, coitado, só tem a si mesmo. Tem a si e a fé em Deus.
         O que a noite escura esconde? O ano novo e suas possibilidades - todas- boas e não tão boas. Todas, sob chaves secretas, a serem vividas e vencidas. O que importa é que haverá amanhecer na sua e na minha vida; pássaros e relógio marcando os segundos imponderáveis. Dia novo, como é todo dia; ano novo a cada calendário que se fecha, ou a cada calendário que se abre. Caminhei sob as estrelas do Réveillon pedindo que se minimizassem as dores das guerras, porque nada temos de gladiadores. Ao menos não deveríamos ter. Caminhei proclamando as virtudes e as bondades que nos tornariam bem mais felizes...
       Andei procurando poesias para o final e para o começo de ano. Encontrei a suavidade das palavras ditas aqui e ali, na imaterialidade das mensagens virtuais, cuja beleza perdura nos lábios por discretos segundos e logo se dispersam na brevidade dos instantes. Busquei neste alvorecer de ano a declaração permanente da paz, interrompendo a violência, a morte, o desamor, o desânimo, a desesperança, a guerra... Persegui a beleza real, a generosidade possível, a consistência de palavras pacificadoras que aplacam a angústia do coração e o grande temor do futuro. Recebi algumas ternuras dos versos mais tímidos e sinceros, que eu mesma procuro distribuir a quem me lê; aquela ternura que temos conosco, que se propaga mansamente com um simples sorriso, uma discreta saudação, um elogio, um aceno de mão, um incentivo e um olhar de esperança. Bem-vindo futuro!
Numa viagem no tempo presente e passado que se misturaram por breves segundos nos céus de estrelas do Réveillon, encontrei um caminho para aguardar o tempo com sabedoria, entregando flores.
Que venham os homens dispostos à Paz e que distribuam flores.
Bem- aventurados os pacificadores... 
                                                          

Valéria Áureo    
02/01/2015