Preciso escrever. Dar conta do que vem aqui à cabeça. Talvez uma
crônica, um conto, uma poesia... Mas, não sou eu a escolher as palavras; elas é que me escolhem, como e quando querem... E, se querem, é claro!
Só preciso ordená-las. Eu necessito delas e elas precisam de mim. E nós
precisamos do leitor. É necessário ter persistência no jogo, perseverança no
exercício de encontrar palavras certas, em lugares certos. Palavras livres que
definem e imprimem o indecifrável enigma da inspiração... Uma questão de clima!...
Chego a uma cidade do interior, que é o meu interior cheio de ideias, assuntos e personagens.
Pessoas partem para o exterior, preparadas para o inverno: Paris, Londres,
Istambul, Amsterdã, Emirados Árabes! Longe mesmo. No reino do tão, tão
distante, a lembrar-me das histórias das Mil e uma Noites.
O imprevisto me faz parar no ponto final e respirar na reticência; é o interfone que toca e intercepta o meu pensamento e me traz ao mundo real. Avisam-me que vai faltar água no prédio; que lástima. Eu procuro a força criativa que dormita nas vírgulas e tento sair do aborrecimento do aviso de racionamento de água. Com este calor infernal! Pura ilusão da sede, mas sinto que preciso de um copo de água. O calor trouxe ao corpo a sensação de fadiga de uma corrida na pista da Urca, umas dores musculares de quem passou o dia na academia. Mentira!... Não faço exercícios e não coloco os pés fora de casa, mas o calor exaure o ânimo de qualquer cristão. Para refrescar-me eu percorro o Palácio de Versailles quando não estou escrevendo. Leio a Biografia de Maria Antonieta que Débora trouxe de Paris; ali eu encontro espelhos, jardins, vestidos, carruagens e cristais. Fontes e água, bastante água correndo.
O imprevisto me faz parar no ponto final e respirar na reticência; é o interfone que toca e intercepta o meu pensamento e me traz ao mundo real. Avisam-me que vai faltar água no prédio; que lástima. Eu procuro a força criativa que dormita nas vírgulas e tento sair do aborrecimento do aviso de racionamento de água. Com este calor infernal! Pura ilusão da sede, mas sinto que preciso de um copo de água. O calor trouxe ao corpo a sensação de fadiga de uma corrida na pista da Urca, umas dores musculares de quem passou o dia na academia. Mentira!... Não faço exercícios e não coloco os pés fora de casa, mas o calor exaure o ânimo de qualquer cristão. Para refrescar-me eu percorro o Palácio de Versailles quando não estou escrevendo. Leio a Biografia de Maria Antonieta que Débora trouxe de Paris; ali eu encontro espelhos, jardins, vestidos, carruagens e cristais. Fontes e água, bastante água correndo.
Quando escrevo o coração está no aeroporto esperando o avião pousar.
Vejo passageiros, bagagens, filas imensas. Cada pessoa leva consigo a história
de sua casa, de seus pais e de seu país. Tenho sonhos inquietos de quem está
sentado horas diante do computador, imaginando isto, aquilo e aquilo outro, do
outro lado do mundo!... Os aviões decolam e pousam em toda parte. Há muitos
lugares e possibilidades distantes. Tantas histórias, tantas vidas há... Os
raros amigos estão fora, ainda viajando por causa das festas de fim de ano e
das férias. Eu sigo imerso na rotina isolada do meu escritório, imaginando as
viagens e as vidas alheias... Gosto muito disto. Alegro-me com o que vão me
contar quando retornarem. Gosto muito das minhas viagens imaginárias também.
Assim nascem as crônicas.
Já é final de janeiro. Eu aqui sentada e a cabeça rodando pelo mundo.
Daqui a pouco tudo voltará ao normal, eu imagino. Uma ilusão é claro, porque
nada é igual. Um dia nunca será igual ao outro... As pessoas voltarão
à vida de sempre, que é diferente todos os dias. Cada qual com seus interesses individuais… Voltarão para casa,
secos e aquecidos os que estiveram no inverno extremo dos Estados Unidos,
enquanto eu estou esgotada com o calor do verão. O ar condicionado lembra o
barulho de turbinas. Preciso chamar o técnico antes que ele dispare pela
janela. Louise voltará de Abudab, de Al Ain, depois de um mês e me trará fotos
e histórias (dos camelos, das mesquitas, das burcas, das tâmaras e do deserto)
que pedi.… Acho que a proposta é saber do mundo que ela conheceu com seus olhos
âmbar de relâmpagos, olhos que repousaram no oásis do amor que viveu. Ah! O mundo e seus contrastes.
Nós estamos distantes do bem estar imaginário dos europeus, porque faz
muito calor; aqui, abaixo da linha do Equador, a sensação térmica de 50 graus
esgota! Ora queremos chuva, ora não queremos chuva. Melhor, não queremos
enchentes, mas uma chuvinha mansa e fininha é bem-vinda... Tempos difíceis para quem imagina
como é melhor viver fora do Brasil. Mas, certo é que o inverno castiga o outro
hemisfério. A Natureza e suas intempéries. Aqui a fúria de Odin se manifesta nos
raios que atingem e ferem impiedosamente os dedos do Cristo Redentor. É verão
nos trópicos. Inverno no hemisfério norte. Bom, deveria ser assim, certinho, mas não é. Quem sabe um pouco de neve? Seria bom e surpreendente. Ao menos
aconteceu no Peru. É!... O tempo está louco mesmo. Neve nos Andes, no verão
peruano. No entanto eu não sugiro esquiar nesta temporada. Não acho uma boa ideia,
em tempos de tantos acidentes nas estações de esqui.
A criatividade diminui, frente à dura rotina de escrever neste calor! A
vida fica mais cinza e limitada diante da finitude do espaço. Nem poesia, nem
crônica, nem conto. Isto só foi mais um caso, ou um pretexto para uma conversa sobre o clima. Lamento a falta
de palavras mais animadoras, mas conto com as suas palavras de entusiasmo
quando for ler o que eu escrevo. Mesmo porque, é mais uma história de verão, ou de inverno, dependendo de onde você esteja.
Valéria Áureo
24/01/2014