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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Conto com suas palavras... ( Para falar do tempo).



                                                                Ilustração: Internet



Preciso escrever. Dar conta do que vem aqui à cabeça. Talvez uma crônica, um conto, uma poesia... Mas, não sou eu a escolher as palavras; elas é que me escolhem, como e quando querem... E, se querem, é claro! Só preciso ordená-las. Eu necessito delas e elas precisam de mim. E nós precisamos do leitor. É necessário ter persistência no jogo, perseverança no exercício de encontrar palavras certas, em lugares certos. Palavras livres que definem e imprimem o indecifrável enigma da inspiração... Uma questão de clima!...

Chego a uma cidade do interior, que é o meu interior cheio de ideias, assuntos e personagens. Pessoas partem para o exterior, preparadas para o inverno: Paris, Londres, Istambul, Amsterdã, Emirados Árabes! Longe mesmo. No reino do tão, tão distante, a lembrar-me das histórias das Mil e uma Noites. 

O imprevisto me faz parar no ponto final e respirar na reticência; é o interfone que toca e intercepta o meu pensamento e me traz ao mundo real. Avisam-me que vai faltar água no prédio; que lástima. Eu procuro a força criativa que dormita nas vírgulas e tento sair do aborrecimento do aviso de racionamento de água. Com este calor infernal! Pura ilusão da sede, mas sinto que preciso de um copo de água. O calor trouxe ao corpo a sensação de fadiga de uma corrida na pista da Urca, umas dores musculares de quem passou o dia na academia. Mentira!... Não faço exercícios e não coloco os pés fora de casa, mas o calor exaure o ânimo de qualquer cristão. Para refrescar-me eu percorro o Palácio de Versailles quando não estou escrevendo. Leio a Biografia de Maria Antonieta que Débora trouxe de Paris; ali eu encontro espelhos, jardins, vestidos, carruagens e cristais. Fontes e água, bastante água correndo. 

Quando escrevo o coração está no aeroporto esperando o avião pousar. Vejo passageiros, bagagens, filas imensas. Cada pessoa leva consigo a história de sua casa, de seus pais e de seu país. Tenho sonhos inquietos de quem está sentado horas diante do computador, imaginando isto, aquilo e aquilo outro, do outro lado do mundo!... Os aviões decolam e pousam em toda parte. Há muitos lugares e possibilidades distantes. Tantas histórias, tantas vidas há... Os raros amigos estão fora, ainda viajando por causa das festas de fim de ano e das férias. Eu sigo imerso na rotina isolada do meu escritório, imaginando as viagens e as vidas alheias... Gosto muito disto. Alegro-me com o que vão me contar quando retornarem. Gosto muito das minhas viagens imaginárias também. Assim nascem as crônicas.

Já é final de janeiro. Eu aqui sentada e a cabeça rodando pelo mundo. Daqui a pouco tudo voltará ao normal, eu imagino. Uma ilusão é claro, porque nada é igual. Um dia nunca será igual ao outro... As pessoas voltarão à vida de sempre, que é diferente todos os dias. Cada qual com seus interesses individuais… Voltarão para casa, secos e aquecidos os que estiveram no inverno extremo dos Estados Unidos, enquanto eu estou esgotada com o calor do verão. O ar condicionado lembra o barulho de turbinas. Preciso chamar o técnico antes que ele dispare pela janela. Louise voltará de Abudab, de Al Ain, depois de um mês e me trará fotos e histórias (dos camelos, das mesquitas, das burcas, das tâmaras e do deserto) que pedi.… Acho que a proposta é saber do mundo que ela conheceu com seus olhos âmbar de relâmpagos, olhos que repousaram no oásis do amor que viveu. Ah! O mundo e seus contrastes.

Nós estamos distantes do bem estar imaginário dos europeus, porque faz muito calor; aqui, abaixo da linha do Equador, a sensação térmica de 50 graus esgota! Ora queremos chuva, ora não queremos chuva. Melhor, não queremos enchentes, mas uma chuvinha mansa e fininha é bem-vinda... Tempos difíceis para quem imagina como é  melhor viver fora do Brasil. Mas, certo é que o inverno castiga o outro hemisfério. A Natureza e suas intempéries. Aqui a fúria de Odin se manifesta nos raios que atingem e ferem impiedosamente os dedos do Cristo Redentor. É verão nos trópicos. Inverno no hemisfério norte. Bom, deveria ser assim, certinho, mas não é. Quem sabe um pouco de neve? Seria bom e surpreendente. Ao menos aconteceu no Peru. É!... O tempo está louco mesmo. Neve nos Andes, no verão peruano. No entanto eu não sugiro esquiar nesta temporada. Não acho uma boa ideia, em tempos de tantos acidentes nas estações de esqui. 

A criatividade diminui, frente à dura rotina de escrever neste calor! A vida fica mais cinza e limitada diante da finitude do espaço. Nem poesia, nem crônica, nem conto. Isto só foi mais um caso, ou um pretexto para uma conversa sobre o clima. Lamento a falta de palavras mais animadoras, mas conto com as suas palavras de entusiasmo quando for ler o que eu escrevo. Mesmo porque, é mais uma história de verão, ou de inverno, dependendo de onde você esteja.



Valéria Áureo

24/01/2014