A cada vez que tinha que se
explicar Antonio dizia: se eu estiver mentindo, que um raio do Deus Todo Poderoso caia na minha cabeça e me parta ao meio. E isto fazia parte de todas
as suas narrativas para se explicar diante da esposa. A frase já era até
repetida inconscientemente, antes de todos os outros argumentos. De mentira em
mentira ele ia se livrando das brigas com a mulher. Ela se acostumando com o
que ele dizia e Antonio se acostumando com a explicação forjada ao longo do
caminho de volta para casa; o mais difícil era o enredo de cada história antes
da frase conclusiva: se eu estiver mentindo... Ela fingindo que acreditava nele
e Antonio sem poder repetir histórias que já havia inventado. Tinha que ser
cauteloso e criativo. Nisso a mulher até se divertia, sabendo o quanto ele
tinha que se esforçar para não se atrapalhar.
A prosa nem ia muito longe, porque a mulher já conhecia o final da trama
e Antonio já soltava o desfecho: se eu estiver mentindo... E a conversa acabava nisso. Assim iam
vivendo.
Um dia desses não teve jeito.
Tantas ele fez que...
Choveu muito. Muita água, raios e trovões
tomaram a cidade. Para a admiração da mulher ela ouviu no noticiário: raio cai
na praia da Barra e mata casal na areia.
Ela ficou desnorteada ao
constatar que se tratava de Antonio. Sofreu, gritou, chorou muito, mas logo a
dor deu lugar à dúvida: o que seu marido teria inventado para a amante, a ponto
de Deus perder a paciência e parti-lo ao meio?
Autora: Valéria Áureo
In: Conjugando o Amor Líquido
In: Conjugando o Amor Líquido
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