Chuva de Prata
Se quiser uma aguinha gelada, um algodão doce, pega aqui comigo!...
O ambulante movimentava a rua parada com sua voz estridente. Tudo estava em seu lugar; estranhamente em seu lugar de segunda-feira, terça, quarta... De ágil mesmo, só palavras ressoando na rua vazia. Uns poucos transeuntes falavam ao celular e deixavam mensagens aflitas: temos que estocar mantimentos! Não se sabe quanto tempo essa paralisação vai durar. E se faltar?... E divulgavam as suas necessidades e intenções de água, comida, material de higiene, aos gritos nervosos. E nada mais se poderia ouvir, senão os interesses individuais.
Pensei no que eu poderia querer, para fazer um estoque, uma reserva de bens de primeira necessidade. De que eu precisaria e por quanto tempo?Talvez eu começasse por um arsenal de palavras, para depois pensar no resto. Estranho, não é? Eu e o meu vício de colecionador de palavras. Na verdade, eu gostaria mesmo é de uma chuvinha fresca de palavras como: país / mais/ provisório/ louco/ onde/ previsão/ mistura/ urnas / gente/ fatídica/ se / entende/ tem/ /mais/ caos / fome/ confusão / presidência / previdência / social / inocência / indecente / eleição / corrupção / socorro!...
Socorro, vou morrer afogada! Não contava com esse temporal! Eu só queria uma chuva fininha, de prata...
Socorro, vou morrer afogada! Não contava com esse temporal! Eu só queria uma chuva fininha, de prata...
Valéria Áureo