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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Se eu estiver mentindo...



A cada vez que tinha que se explicar Antonio dizia: se eu estiver mentindo, que um raio do Deus Todo Poderoso caia na minha cabeça e me parta ao meio. E isto fazia parte de todas as suas narrativas para se explicar diante da esposa. A frase já era até repetida inconscientemente, antes de todos os outros argumentos. De mentira em mentira ele ia se livrando das brigas com a mulher. Ela se acostumando com o que ele dizia e Antonio se acostumando com a explicação forjada ao longo do caminho de volta para casa; o mais difícil era o enredo de cada história antes da frase conclusiva: se eu estiver mentindo... Ela fingindo que acreditava nele e Antonio sem poder repetir histórias que já havia inventado. Tinha que ser cauteloso e criativo. Nisso a mulher até se divertia, sabendo o quanto ele tinha que se esforçar para não se atrapalhar.  A prosa nem ia muito longe, porque a mulher já conhecia o final da trama e Antonio já soltava o desfecho: se eu estiver mentindo...  E a conversa acabava nisso. Assim iam vivendo.

Um dia desses não teve jeito. Tantas ele fez que...

 Choveu muito. Muita água, raios e trovões tomaram a cidade. Para a admiração da mulher ela ouviu no noticiário: raio cai na praia da Barra e mata casal na areia.

Ela ficou desnorteada ao constatar que se tratava de Antonio. Sofreu, gritou, chorou muito, mas logo a dor deu lugar à dúvida: o que seu marido teria inventado para a amante, a ponto de Deus perder a paciência e parti-lo ao meio?



Autora: Valéria Áureo
In: Conjugando o Amor Líquido