Apresentação

Total de visualizações de página

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Persuasão


 
Ilustração: Internet

 

         - Então, é seu primeiro assalto, já respondeu por alguma coisa?

         - É, sim senhor! Só fui pego na malandragem antes, coisa de moleque “di menor”. Mas a minha ficha está limpa.

         - E o que pretendia com isso?

        - Tô sem dinheiro, senhor, sou trabalhador. Os coroas estavam aqui perto, deram oportunidade e eu me senti desafiado. Bolsa, colar, relógio celular, tudo dando mole, me chamando pro combate. Foi convite pra ação, sabe como?

        - E por isso acha que pode sair roubando por aí? Ainda mais um casal de idosos? Não tem vergonha não?

        - Eu tô na noia, senhor! Mas eu não judiei de ninguém não; foi tudo na diplomacia. Foi no diálogo, no argumento, na inteligência, doutor!... Não mostrei arma nenhuma não, porque respeito os cabelos brancos. Velho me comove! Não mostrei arma não! Ficou guardada na cintura só para a minha segurança; é que eu estava muito nervoso. Olhei para os dois velhinhos e me lembrei de minha vó. Sabe como é, a primeira vez a gente titubeia. Se ficasse pensando muito na minha velha, aí é que eu não conseguia mesmo fazer o assalto e  nem conseguia desvendar o bagulho. Ela não ia gostar de me ver nas quebradas, aprontando. Mas eu agi com cuidado, com respeito. Não agredi e nem ofendi; até chamei de senhor e senhora... Foi tudo no respeito e elegância. Só entrei na mente do sujeito para ele me dar o dinheiro, não teve agressão. Sou um cidadão educado, só entrei na mente dele com muita diplomacia, dialogando, senhor!.

        E como é que você faz para entrar na mente da pessoa?

        - Ah! Senhor, aí eu digo que vou fazer isso e aquilo e aquilo outro. Eu não boto terror! É um trabalho de persuasão, está me entendendo? Na eloquência! Falo, mas nem grito, só trabalho no contexto da paz e do amor. Falo assim: - Se não der isto, já sabe o que pode acontecer, meu bom! Eu aviso! Não ataco e nem machuco ninguém. Eu convenço a pessoa a me dar o que eu quero, mas eu não toco em um fio de cabelo dela, nem falo palavrão. Chego ao assunto com o cliente, com cordialidade, argumento e domino a mente dele, olho no olho. Nem mostro a arma, porque eu ajo com a cabeça e as palavras, tá ligado? Arma só em último caso, se o sujeito for mesmo cabeça dura; mas, se ele está pronto para o diálogo tudo acaba bem. É tudo na diplomacia, doutor! Não sou sujeito de violência não!  Eu só trabalho na mente do sujeito. Tem que ter retórica, doutor! Tem que ler Aristóteles, esses caras, tá ligado?Agora eu posso ir embora, doutor?

    Autora: Valéria Áureo

01/08/2017