Ilustração: Internet
O papa pisa
em solo brasileiro, atravessa a cidade em um carro popular, ignorando o
engarrafamento e as tão temíveis manifestações, que tanto incomodam os nossos
governantes. Aliás, a sua figura contrasta com as das autoridades blindadas em
seus carros. Ele peregrina em muitos campos, sempre perseguido pela multidão
que o aclama em lágrimas: caminha a semear na comunidade de Varginha, em
Aparecida, no Campo de São Cristovão, na Tijuca, na Glória, na Praia de
Copacabana e o sol se recolhe em todos os eventos... Semeia em todos os campos onde cai chuva fina.
E o sol só volta a brilhar no dia da despedida.
A paisagem
é sempre angelical, de suave chuva, vento e frio. Há uma reverência solene, até
mesmo da natureza, diante da magnitude do que representa Sua Santidade, o Papa.
E a chuva fina e o frio aglomeram todas as pessoas, bandeiras, idiomas e nações
no calor humano, emanado da uníssona espiritualidade. O Pastor em meio a suas
ovelhas caminha sempre sorrindo, tocando as pessoas com ternura. Se ele pediu
licença e bateu delicadamente às portas dos corações, todas se abriram para ele
com grande alegria.
Mesmo se o
sol tivesse aparecido para desfazer os dias nublados, o Papa teria refletido
mais luz que ele, pois Sua Santidade reverberava pela singeleza com que caminhava
e distinguia alguns eleitos na multidão para receber o seu paternal beijo. Carregando
a sua valise, sem as “mordomias principescas” ele poderia ser confundido com um
homem comum do povo. Uma humildade que o torna Francisco... Humildade respeitosa
a todos as pessoas lhe é natural e o acompanha sempre. É um homem com todas as
peculiaridades do que é humano; um soldado de Cristo, que armado apenas da fé,
da boa palavra e dos calorosos afagos, arrasta milhões de pessoas que se
comovem e fazem silêncio. Três milhões e quinhentas mil pessoas em contrição e
silêncio. A sempre voluptuosa Copacabana neste momento está vestida, coberta, casta
e silenciosa. Todos caminham na mesma direção da luz que ele irradia. Mas, de
onde ele vem?...
Vem
da longa caminhada da Societas Iesu, S.
J., uma congregação religiosa conhecida principalmente por seu trabalho
missionário e educacional. Inácio de Loyola, seu fundador, de origem nobre,
ferido em combate na defesa da fortaleza de Pamplona contra os franceses em 1521
dedicou-se à leitura do "Flos
Sanctorum", após o que decidiu desprezar os bens terrenos. Abandonou a
indumentária fidalga substituindo-a pela dos mendicantes; a Companhia de Jesus tinha
por objetivo desenvolver trabalho de acompanhamento hospitalar e missionário em
Jerusalém, ou ir para onde o Papa os enviasse. As constituições jesuítas deram
origem a uma organização rigidamente disciplinada, nos moldes militares,
enfatizando a absoluta abnegação e a obediência ao Papa e aos superiores
hierárquicos (perinde ac cadaver, "disciplinado como um cadáver",
nas palavras de Inácio). O seu grande princípio tornou-se o lema dos jesuítas:
“Ad maiorem Dei gloriam” ("Para
a maior glória de Deus")
Enfim, se sabemos de onde ele vem, podemos
imaginar para onde vai... Caminhará livremente, sem medo, por todos os povos e
todas as gentes, assim como sempre fez e como se sente bem. Visitará muitas
nações. Estará entre os mais humildes, tocando-os, beijando-os, despojado do
luxo e inebriado de Luz. Se, entre seus votos como jesuíta, destaca-se obedecer
ao Papa sem questionar, ele, agora Papa, indicará a direção.
Se, por formação é rigidamente
disciplinado, ele sabiamente propõe flexibilidade aos governantes, de modo a saírem dos
seus pedestais e ouvirem o clamor do seu povo. Para a evangelização o Santo
Padre convoca os jovens, acolhendo seus espíritos questionadores com a
sabedoria dos guias espirituais, para que suas forças, seus propósitos e suas
ações sejam instrumento de solidariedade, caridade, humildade e compreensão. O
Papa é humano... O Papa é espírito que ilumina. Ele afaga, acarinha, conforta,
aquece e orienta com a sabedoria e sobriedade de uma mãe dedicada.
O Papa missionário e evangelizador está
apenas começando a sua longa caminhada por muitas e longínquas plagas. Nós
sentiremos saudades. E Copacabana, agora tão abençoada, será muito mais bela.
Valéria
Áureo
30/07/2013