Todos os passageiros se misturam apressadamente e aguardam os vagões se aproximarem. Algumas mulheres vão entrando; outras vão saindo do vagão exclusivo para elas. Ali deveriam estar mais protegidas do assédio inoportuno de olhos, mãos e desejos inescrupulosos. Algumas cores das suas roupas são exageradas, luminosas e incandescentes, talvez porque seja verão e a cidade é cercada de praias e tecidos arejados e eflúvios; outras mulheres são bem mais sóbrias, principalmente quando envelhecem; umas são soberanas no jeito de andar em saias longas e sensuais; nem todas são angelicais como se imagina das mulheres; vê-se no aperto do vagão um discreto toque de malícia e crueldade de certas caras atrevidas e suas minissaias coladas nas coxas, como um envelope lacrando a pele queimada de sol. Vez por outra, vê-se um rosto de beleza plácida, pura, angelical, total e completamente feminina. Pode-se dizer que é a encarnação da candura.
Já em casa os homens veem futebol, pelo menos aqueles que gostam; outros tomam cerveja, ou jogam vídeo game, ou vasculham o celular, ou pensam nas contas, ou no trabalho, ou no chefe, ou na secretária, ou dormem diante da TV; as mulheres pensam na família, na casa, na comida, na roupa do dia seguinte, nos cabelos, no sono que sentem... Quando mais nervosas pensam na própria vida, no desejo de viverem desvencilhadas da rotina. Pensam em aceitar, ou em descartar, ou em trocar, ou em matar, ou em abandonar. No fim das contas, pouco importa o que elas pensam quando estão cansadas e nervosas; quando termina o cansaço, ou seja lá o que for que as magoe, elas decidem continuar, já despidas de seus trajes suados. Decidem, ao final do dia, a vestir novamente as suas saias esvoaçantes e sair correndo para pegar o metrô e o vagão rosa.
Autora: Valéria Áureo
In: Entre Mentes e Corações
In: Entre Mentes e Corações
Fonte: Internet