Finalmente pude conhecer a tão propagada Balbúrdia,
o que eu já tinha tentado algumas vezes. Houve um arrefecimento nas crises internas
e o país abriu as portas ao turismo novamente. O governo precisava arrecadar mais
tributos, com os visitantes ocupando a sua rede hoteleira, que até então tinha
sofrido um grande desgaste. Estrangeiros insistiam em conhecer as ruelas, que
mesmo em guerra estavam acessíveis aos turistas. O risco de uma bala perdida
fazia parte do pacote de emoções oferecido pela agência de turismo.
Estrangeiros vinham em busca de vertigens e adrenalina, alinhavadas com teses
de estudos antropológicos. Também vinham em busca de artesanato em gesso e
mármore só encontrado no local.
Devo dizer que o país, de certa forma me encantou,
pois tinha se tornado referência mundial, com a ajuda do prêmio Nobel de
Medicina, de origem em Balbúrdia. Havia festejos e muita esperança, afinal Balbúrdia
tinha conquistado para o seu povo, mediante muita pesquisa científica e
medicina de ponta, um título Nobel e a tão perseguida “ longevidade humana”,
que agora atingia a faixa etária de no mínimo 140 anos. Balbúrdia era um
expoente, recentemente notável em todo o mundo. Jovens que tanto temiam
envelhecer comemoravam efusivamente. Idosos, agora com muitos anos pela frente,
não deixavam um só instante de celebrar o futuro pleno de saúde. E assim,
diante de tantas conquistas, não se incomodaram em contribuir com as reformas
que estavam por vir. Por conta de muitos anos maravilhosos em uma pátria tão
hospitaleira e cuidadosa com a sua população, o governo propôs uma reforma na
Previdência social chamada Requiescat in
pace; tudo com o objetivo primordial de prolongar as
benesses que o governo já oferecia aos seus contribuintes, desde o nascimento
de um balburdiense, até a sua aposentadoria gloriosa, a partir do centenário do
contribuinte.
Balbúrdia rompeu a barreira dos 60/70 anos de vida
do homem; mais que dobrou a expectativa de vida do balburdiense, garantindo-lhe
o melhor para a tão almejada aposentadoria. Há muito tempo os cientistas e
alquimistas de Balbúrdia dedicavam suas vidas à busca da poção da juventude eterna.
E, em meio às atribulações que uma crise econômica e moral provocam, o cenário
se descortina agora, para notícias promissoras. Agora não se trata mais de
mitologia grega, em que se creditava a certos alimentos uma relação estreita
com a juventude, tal como ocorreu com a ambrosia – o manjar dos deuses no
Olimpo; alimento tão poderoso que conferia a um mortal que o comesse, a
imortalidade. Nem se trata de mitologia nórdica, onde as maçãs, colhidas pela
guardiã Iduna, podiam dar aos deuses (então mortais), a vida eterna. Nem se
trata do ouro dos alquimistas chineses e o elixir da longa vida. A solução para
o dilema da morte está em Balbúrdia. Pelo menos, é o que anunciam as
autoridades, garantindo vida longa ao povo. Não se sabe ainda se na água, no
ar, nos alimentos, ou nos remédios oferecidos pela rede pública. O certo é que os
governantes de Balbúrdia mantém o segredo a sete chaves.
Então, vamos lá, rumo aos cento e quarenta anos!
Tudo sob o patrocínio da Previdência Social, pacote Requiescat
in pace*.
*Do latim - Descanse em paz.