Apresentação

Total de visualizações de página

sábado, 28 de outubro de 2017

Novos Matusaléns em Balbúrdia


 



 

Finalmente pude conhecer a tão propagada Balbúrdia, o que eu já tinha tentado algumas vezes. Houve um arrefecimento nas crises internas e o país abriu as portas ao turismo novamente. O governo precisava arrecadar mais tributos, com os visitantes ocupando a sua rede hoteleira, que até então tinha sofrido um grande desgaste. Estrangeiros insistiam em conhecer as ruelas, que mesmo em guerra estavam acessíveis aos turistas. O risco de uma bala perdida fazia parte do pacote de emoções oferecido pela agência de turismo. Estrangeiros vinham em busca de vertigens e adrenalina, alinhavadas com teses de estudos antropológicos. Também vinham em busca de artesanato em gesso e mármore só encontrado no local.

Devo dizer que o país, de certa forma me encantou, pois tinha se tornado referência mundial, com a ajuda do prêmio Nobel de Medicina, de origem em Balbúrdia. Havia festejos e muita esperança, afinal Balbúrdia tinha conquistado para o seu povo, mediante muita pesquisa científica e medicina de ponta, um título Nobel e a tão perseguida “ longevidade humana”, que agora atingia a faixa etária de no mínimo 140 anos. Balbúrdia era um expoente, recentemente notável em todo o mundo. Jovens que tanto temiam envelhecer comemoravam efusivamente. Idosos, agora com muitos anos pela frente, não deixavam um só instante de celebrar o futuro pleno de saúde. E assim, diante de tantas conquistas, não se incomodaram em contribuir com as reformas que estavam por vir. Por conta de muitos anos maravilhosos em uma pátria tão hospitaleira e cuidadosa com a sua população, o governo propôs uma reforma na Previdência social chamada Requiescat in pace;  tudo com o objetivo primordial de prolongar as benesses que o governo já oferecia aos seus contribuintes, desde o nascimento de um balburdiense, até a sua aposentadoria gloriosa, a partir do centenário do contribuinte.

Balbúrdia rompeu a barreira dos 60/70 anos de vida do homem; mais que dobrou a expectativa de vida do balburdiense, garantindo-lhe o melhor para a tão almejada aposentadoria. Há muito tempo os cientistas e alquimistas de Balbúrdia dedicavam suas vidas à busca da poção da juventude eterna. E, em meio às atribulações que uma crise econômica e moral provocam, o cenário se descortina agora, para notícias promissoras. Agora não se trata mais de mitologia grega, em que se creditava a certos alimentos uma relação estreita com a juventude, tal como ocorreu com a ambrosia – o manjar dos deuses no Olimpo; alimento tão poderoso que conferia a um mortal que o comesse, a imortalidade. Nem se trata de mitologia nórdica, onde as maçãs, colhidas pela guardiã Iduna, podiam dar aos deuses (então mortais), a vida eterna. Nem se trata do ouro dos alquimistas chineses e o elixir da longa vida. A solução para o dilema da morte está em Balbúrdia. Pelo menos, é o que anunciam as autoridades, garantindo vida longa ao povo. Não se sabe ainda se na água, no ar, nos alimentos, ou nos remédios oferecidos pela rede pública. O certo é que os governantes de Balbúrdia mantém o segredo a sete chaves.

Então, vamos lá, rumo aos cento e quarenta anos! Tudo sob o patrocínio da Previdência Social, pacote Requiescat in pace*.

*Do latim - Descanse em paz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário