Ops... É
gol! Como se sente?
Gol da Alemanha! Meu Deus,
já? Não acredito!... A voz do Galvão Bueno não sai mais da minha cabeça. Mas
vamos lá!... Muitos estrangeiros chegaram esperando encontrar coisas muito
interessantes neste país abaixo da linha do Equador. Claro, vieram ver o melhor
do futebol. Mas, de futebol eu não falo e me recuso a comentar o fatídico e
inexplicável. Nada a declarar! Gol! Dois
a zero!... Mal liguei a televisão?Como
foi isto?... E, devo confessar, houve mesmo bizarrices que fazem deste país um
paraíso ou um inferno. Depende do ponto de vista. Para os moradores de
Copacabana e Leme, o inferno foi obra dos argentinos que agiam como vândalos
durante o dia e a noite, promovendo gritarias, panelaços, sujeira e arruaça. Gol! Três para a Alemanha. O quê? Fala
sério! Continuando... Eu falava dos argentinos. Foram deslocados para um camping improvisado no Terreirão do
Samba e no Sambódromo, quando a permanência deles na Atlântica se tornou
incontrolável. Alguns deles acreditavam que poderiam vir para cá, sem dinheiro,
sem ingresso e que ficariam nas areias da praia. Sem lenço e sem documento,
caminhando contra o vento... Céu, mar, caipirinha... Foi o que aconteceu e a cidade não estava
preparada para tanto. Mas, já se foram com a graça de Deus, levando consigo uma
deliciosa lembrança do Maracanã... (Maracanazo?). Ganhar um título aqui na
nossa casa já seria demais.
Houve todo tipo de torcedor... Foi
bom apreciar tamanha diversidade de povos. Muita alegria nas ruas: muitas
cores, muitos idiomas, trajes, bandeiras e camisas de seleções. Gol! Quatro para a Alemanha. O que está
acontecendo? O que deu nos jogadores? Cadê nosso time? Não vejo mais este jogo!
Acabou a copa! Continuando... Alguns jogadores vieram assustados com mosquitos
e possíveis febres tropicais. Difícil para eles também se adaptarem à variação
de clima, conforme a região em que atuavam. De um jogo para outro eles
experimentavam calor, umidade, chuva, frio. Outros, já alocados nos quatro
cantos do Brasil postaram no Instagram fotos de camas infestadas de formigas,
de aranhas caranguejeiras nas paredes dos quartos, para comprovar o inusitado.
Nada de formiga, ou aranha surreal, porque este é um país de flora e fauna
abundantes... Não sabiam? Posso garantir que tudo faz parte do nosso contexto;
surreal? Não! Deixemos isto para os preços. Surreal mesmo foi o futebol com a
derrocada das grandes campeãs.
Por falar em coisas típicas, vale
lembrar algumas delas. A série começou com um ator salvando um turista de um
ladrão de praia, acertando-lhe a cabeça com um coco. Sei que foi por instinto,
por reflexo do ator, mas bem eficiente e belo desempenho. Nada mais natural
(tribal?)e apropriado do que um coco como arma. Mas cairiam bem os tacapes, as
flechas e bodoques dos pataxós, que estavam em alta e aproveitaram para reivindicar
a demarcação de suas terras. Os alemães lhes deram voz. Muito se viu de tangas e
cocares, mulheres e colares... Por falar nisto, a água de coco fez muito
sucesso. Realmente, um país tropical, carnavalesco, solar... Um mês de
carnaval, de Fanfest na praia e estrangeiro acreditando que o brasileiro é
muito feliz... O tempo todo feliz. Como já se cantou: não existe pecado abaixo
da linha do Equador. Se para eles foi um paraíso, para o morador a Copa em
Copacabana foi um inferno. O jeito foi ficar em casa, vendo tudo pela
televisão, indo ao mercado em horários estratégicos, para estocar alimentos. A cidade
foi tomada por eles, durante muitos dias... Entre tantas coisas, o mais
interessante foi ver a seleção da Alemanha integrada a uma tribo de índios
pataxós. Isto era
autenticidade. Descobriram o Brasil desembarcando em Cabrália. Creio que ela já chegou vencedora, sem temer as formigas, as aranhas,
as febres típicas de um país tropical e tudo que viesse da terra. Viveram como
os nativos. Integraram-se. Enquanto alguns se queixavam do que consideravam
extraordinário no nosso país, a Alemanha se concentrou no melhor do Brasil natural,
sem maquiagem, longe das mídias, das entrevistas, das selfies e dos fanáticos.
Concentração, natureza e paz já lhes bastavam. Os alemães deram um show, em
todos os sentidos. Aproveitaram o que há de melhor aqui. Eles construíram seu
centro de treinamento, sua estrada, sua unidade medica, em um terreno comprado
por eles e doado para a comunidade. Foi a seleção que melhor se agregou ao povo
e que fez o melhor futebol... Ops... Fizeram mais um... Gol! Cinco a zero para a Alemanha! Não acredito no que estou vendo!...
Na Copa das
Copas houve de tudo; quanta bizarrice: mordida do uruguaio Suarez no ombro do
italiano Chielini (não é beijinho no ombro, viu?); joelhada na coluna, que
eliminou a grande promessa brasileira e quebrou a coluna da Seleção
consequentemente. O inexplicável desaparecimento do Tatu Bola (como é mesmo o
nome dele?), símbolo da copa, inclusive na cerimônia de abertura (sem
comentários). Está certo... Justifica-se uma vez que o tatu estava mesmo em
extinção. Que fim levou? Ouvi dizer que a FIFA não pagou o valor para o uso do
símbolo da fauna nacional. O Tatu Bola foi
tão ignorado e desprezado quanto o chute do exoesqueleto, aguardado pela
comunidade científica de neurocientistas e por nós brasileiros. Uma pena! Passemos
para situações mais amenas: fisioterapeuta inglês que foi comemorar um gol e
torceu o pé; o sucesso do feijão tropeiro durante as partidas no Mineirão;
gringo querendo chegar a salvador e desembarcando em El Salvador; camelo, polvo,
galinha, burro e gente vidente, dando os vaticínios dos jogos; latinhas de ar
enlatado das cidades brasileiras, souvenir para turistas; Papas torcedores da
Argentina, desfilando em Copacabana à moda da Jornada Mundial da Juventude.
Nisto foram espirituosos; ou seria “espirituais”?... Se o Papa é argentino,
Deus continua sendo brasileiro, apesar de tudo. Mexicanos vestidos de Chapolim
Colorado, gregos vestidos de Yogurte, suíços vestidos de queijo, holandeses
vestidos de vaquinhas... Muito pão de queijo, muita coxinha, muito açaí, muita
caipirinha e arroz com feijão... Copa dos memes e do bom humor, mesmo na
derrota. Nada melhor que rir de si mesmo: abriu a gaveta, é gol... Bateu o
joelho, é gol; estacionou o carro, é gol; tomou café, é gol; deu um espirro, é
gol; tocou o telefone, é gol; abriu a geladeira, é gol... Gol!
Seis para a Alemanha!... Meu Deus! O que é isso? Não acredito em uma coisa
destas! Continuando... Desvendada a máfia de venda de ingressos pela
polícia brasileira; Maradona sem a credencial de jornalista é barrado. Chilenos
tentando entrar no estádio com ingresso de Carnaval. É... Até poderia ser... O
estético gol de peixinho do Van Persie; a cara do Davi Luiz ao comemorar o gol
contra a Colômbia; as comemorações acrobáticas do técnico do México; os erros
de arbitragem; a batalha de gritos de guerra entre argentinos e chilenos (meu
Deus, insuportável). Leonardo Di Caprio e a festa no mega iate de luxo para
quarenta garotas; Mick Jagger nos estádios, o grande pé frio... Torcendo para
quem?... Datena de cueca pagando promessa depois da derrota do Brasil; Gol, é gol, é gol da Alemanha! Sete... A
Alemanha faz sete gols e põe o pé no freio em respeito aos anfitriões.
Minha nossa!... O Brasil fez um gol.
Valéria Áureo
20 de julho de 2014