Cheguei a Parvopolis depois de treze
horas de voo. Tomei café no avião. Cheguei ao hotel e fui dormir, pois ainda
era de madrugada. Acordei às duas horas da tarde. Tomei meu banho e fui dar uma
volta pelas redondezas. Cidade calorenta! Entrei em um restaurante de comida
típica local; muito tempero, pimenta e excesso de gordura. Deixei um pouco de
comida no prato e fui conhecer o tão famoso Museu.
Entrei. O Museu era enorme. Havia
artistas fazendo performances. No primeiro plano uma jovem se apresentava com
uma lata de molho de tomate e um abridor. Ela tentava abrir a lata e
demonstrava total inabilidade para fazer isso - abrir uma lata. Os minutos
passavam e ela se atrapalhava sem conseguir; finalmente abriu a lata e todos os
parvopolenses aplaudiram efusivamente. Eu ainda pensei: se ao menos ela tivesse
simulado um suicídio e jogasse o molho vermelho sobre o próprio corpo, teria um
enredo. Mas, enfim, fui para o outro lado da sala. Um modelo nu esfregava a
imagem de Nossa Senhora na genitália. Todos em torno reagiam: os parvopolenses
aplaudiram e os estrangeiros ficaram atônitos. Ele continuou a apresentação;
pegou um ralador tão grande que pudesse encobrir a genitália desnuda e se pôs a
ralar a imagem da Virgem Maria. Parvopolenses em suas parvoíces aplaudiram,
assoviaram, gritaram eufóricos. Os estrangeiros se mantinham calados. Em outro
ponto do museu um homem representava Cristo e palitava os dentes com um espinho
arrancado da coroa. Outro performático distribuía hóstias escritas com os nomes
dos órgãos sexuais e outras bizarrices. Os parvopolenses aplaudiam. Um macaco
foi colocado no colo da Virgem Maria, substituindo o Menino Jesus; o Cristo foi
mimetizado com uma divindade hindu com muitos braços. Em cada mão um apetrecho.
Outra artista em cócoras retirava o crucifixo das entranhas. Os parvopolenses
comemoravam. Um grupo fazia pinturas escatológicas em um grande mural; usavam
chocolate como fezes e lambiam os dedos com gestos tribais. Os parvopolenses
aplaudiram estrondosamente. Eu nauseada vomitei no piso branco de mármore. A
comida e a arte de Parvopolis me fez muito mal. Eu vomitei no chão e os parvopolenses
me aplaudiram de pé e gritaram viva, viva, viva! Eles tiraram muitas selfies
comigo e disseram que eu era uma artista fantástica.
País muito
estranho Parvopolis! E mais estranhos ainda são os parvopolenses!
Autora:
Valéria Áureo