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sábado, 18 de janeiro de 2020

A Escolha da Sogra

                                                Ilustração Fonte: Internet

Personagens, conflitos, etc. Tudo está aí, exposto para ser visto e criticado ao seu prazer, caso não tenha o bom senso de se manter quieto em seu canto. Então aventure-se a dar palpite em vida alheia! ... Acredite, pois, no que eu falo; creia em tudo como se estivesse vivendo o espetáculo, vendo com os próprios olhos, ou sofrendo você mesmo as situações de conflito que vou narrar.
Nada mais sem lei, sem ordem e sem cerimônia, do que a sogra se meter na vida do único filho. Nada mais corriqueiro também quando ela invade a vida dele, tentando manter o domínio do território, sem se preocupar com as ofensivas e amargas investidas nas particularidades dele.
Quando o filho teve a ideia de apresentar a namorada, a mãe apavorou-se diante da alegria, da jovialidade, do frescor da moça. A jovem resplandecia em cores e aromas e tinha a leveza das madrugadas. Uma flor, aos olhos do moço. Radiante e feliz ela ria, ria, ria. Era mesmo a felicidade. Ele, ao lado dela, ria e era feliz.
A mãe fechou a cara. Limitou-se a dar a fatídica sentença em único veredito: afaste-se dela! Isso não é para você! É uma mulher da vida! Mulher de vida fácil! O filho, limitado em seu íntimo querer, covarde em suas parcas iniciativas e tíbio no poder de decisão acatou solenemente a sentença, no trânsito e julgado do supremo entender materno. Afastou-se da moça irradiante, com o coração dilacerado. Para a abandonada não deixou nenhum recurso apelatório. Sumiu da vida dela, subjugado por encanto materno e novenas. Levou tempo para esquecê-la, até encontrar uma outra, mais séria, mais recatada, mais contida em um vestido fechado e comprido. Finalmente lhe veio timidamente habitar o magoado coração, uma feminina imagem da penumbra. Ao apresenta-la à mãe, em sala de luz tíbia, ela logo a aprovou. Concedeu-lhes a bênção discreta e pouco depois se casaram. A esposa cheia de recato pouco ria e pouco falava. Movimentava-se pouco e nada a fazia rir. Nisso o marido a acompanhava. Andava pelas sombras em segredo acabrunhado. Na cabeça do moço ainda rondava a risada sadia e vívida da primeira namorada. A mulher da vida; vida fácil! ... Ao menos de sua vida, pensava.
Na primeira desavença a esposa desfechou-lhe um golpe fatal. Com a mesma frieza desalojou a faca e limpou-a sem constrangimentos. Não, não devia ter ouvido a mãe. Devia ter se casado com a mulher da sua vida. Mas já era tarde, bem tarde. Tinha escolhido a mulher da vida difícil. 

Autora: Valéria Áureo
In: Entre Mentes e Corações