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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Cidade Escrita

                                                         Arquivo- O Imparcial



        O poeta Baudelaire, um flâneur conhecido e um tanto nostálgico que adorava passear pelas ruas sem nenhum destino prévio, não tardou a acusar a dimensão das transformações espetaculares operadas pelo super-prefeito Barão Haussmann: "A velha Paris não existe mais (a forma de uma cidade muda mais depressa, ai! Do que o coração de um mortal) Paris muda! Mas nada se moveu em minha melancolia! Palácios novos, andaimes, blocos, velhos subúrbios, tudo para mim se torna alegoria, e minhas caras lembranças são mais pesadas do que rochas”.

        Verdade é que tudo muda a todo tempo, aos olhos do poeta, aos olhos do homem comum; muda em todos os lugares, do lado de fora, no espaço, e do lado de dentro, no coração. E entender e aceitar que nada no universo é constante, senão a própria mudança, é muito mais fácil. Algumas coisas antigas são depostas, por uma razão ou outra e são substituídas por novas. Novas estradas se abrem, enquanto outros caminhos são abandonados. Tudo se movimenta ininterruptamente e acompanha a vertiginosa viagem da Terra, no eterno movimento, delineando os seus contornos e geografia. Poetas e cronistas são andarilhos melancólicos e críticos, habitualmente. Ressentem-se muito das transformações.Ai, o coração e suas saudades!

        Cresci ouvindo que em Rio Pomba havia uma caveira de burro enterrada; coisa de burro empacado até depois de morto. Seria esta a razão pela qual a cidade não crescia, diziam os antigos. Procurei a origem da história. Encontrei muitas fontes para explicar esta crendice e, entre muitas, cheguei à caveira de burro de Portugal, uma das mais interessantes:



        “Mário Quintela, um homem notável que, não sendo natural da Covilhã, Portugal, lá viveu uma grande parte da sua vida, deixando o nome ligado a várias realizações na cidade – poucas, e disso ele queixava-se –, era o que hoje se poderia chamar um “opinion maker” local. Escrevia regularmente no Notícias da Covilhã, de que chegou a ser Diretor. Numa das suas crônicas da época,  entendeu detalhar a origem de uma lenda que corria, na cidade: Haveria – diziam os mais velhos - enterrada em algum lugar na Praça do Pelourinho, a caveira de um burro que possuía o maléfico poder de impedir todo o progresso na Covilhã.



        A lenda, segundo Mário Quintela, viria do tempo das Invasões francesas. Num certo dia, um coronel do exército de Junot entrara na Covilhã com o seu destacamento militar. Vinham cansados, estropiados e o coronel ao passar pela vila do Paul, teria ali “requisitado” à força um burro – já não em muito bom estado de saúde – para conduzi-lo até Covilhã. Ao transpor o arco do Pelourinho à frente das suas tropas, o burro empacou, jogando-o ao chão e pregando com os costados do coronel na calçada, causando-lhe ferimentos e a fratura de uma perna.  O coronel, furioso com a humilhação, evocou os seus deuses para que amaldiçoassem para sempre a terra que fizera a sua desgraça. A caveira do burro logo foi sepultada em local secreto.  A caveira nunca foi encontrada e o progresso da Covilhã, foi pequeno certamente, mas talvez não tenha sido o que podia ser, nem o esperado, porque, em algum lugar, a caveira do burro está ainda a cumprir a maldição”.

        Pois, se a tal caveira foi alhures enterrada, em local incerto e não sabido e não acá em terras pombenses, deixemos de lado os fantasmas... Ou se alguma outra caveira de burro, que já esteve em terras de Alentejo e mesmo em terras de Goiás ou Mato Grosso, ou seja lá onde for, para cá veio arrastada de algures, é certo que já foi há muito levada pelas enxurradas para o Atlântico e a maldição da caveira de burro já vai muito longe.

        Deixando a imaginação, a fantasia e o bom humor de lado, porque o assunto requer seriedade, vejamos: é só acompanhar os noticiários do Jornal O Imparcial, ou o site da cidade, para encontrar uma efetiva sequência de empreendimentos vitoriosos. São constantes os eventos culturais, a benfazeja e vitoriosa implantação do IFET em terras pombenses, as várias inaugurações de obras, os agronegócios, a sinalização das vias públicas, o recebimento de verbas para o orçamento público com transparente destinação e aplicação em infraestrutura. É comum encontrar a divulgação de reformas, de eventos e acontecimentos literários, apresentação de Bandas, projetos sociais e pedagógicos, Concursos Acadêmicos de Monografias, lançamentos de livros, exposições, atividades nas Escolas, no Museu, no Arquivo Histórico da cidade, na Biblioteca Municipal e tantas atividades que promovem as inclusões e o gosto pela arte e cultura. Vejo com entusiasmo crescer o projeto de leitura (insinuado em uma crônica que escrevi, logo no início do exercício do mandato do atual prefeito).

        Se o mundo está em constante mudança, essencialmente ao nível das tecnologias, esta chegou de forma definitiva a Rio Pomba e nos permite observá-la de longe... É a nossa hora de dizer: A “lendária” caveira de burro foi definitivamente erradicada de nossa terra e deve restar como mais um “causo” de nosso folclore, ao gosto dos antigos e dos saudosistas. O sucesso dos vários segmentos municipais evidencia a competência e a seriedade do agente da administração pública, que se mantém firme e atualizado em relação às constantes transformações. A seu espírito jovem e empreendedor se deve a integração da cidade em um novo contexto. É notório o avanço da cidade sob a direção de seu prefeito. Uma nova cidade para os mais antigos e conservadores como eu; uma cidade promissora, com uma perspectiva da geração “millenium” com potencial para imergir definitivamente no progresso e integrar as crianças e os jovens no futuro.

        Não passeio pela cidade melancólica e poeticamente como fazia Baudelaire em Paris, mas acompanho as inovações via O Imparcial e  pelo cyber espace com o meu coração.


Valéria Áureo  
- 07/10/2013


George-Eugène Haussmann (Paris, 27 de março de 1809, 11 de janeiro de 1891), conhecido apenas como Barão Haussmann- o "artista demolidor", foi prefeito  do antigo departamento do Sena.  Foi responsável pela reforma urbana de Paris, determinada por Napoleão III, e tornou-se muito conhecido na história do urbanismo e das cidades. Ninguém como Haussmann mudou inteiramente a face de uma cidade como durante sua longa administração (de 1853 a 1870), servindo como modelo e inspiração para os que mais tarde reformaram tanto Buenos Aires (Torquato de Alvear), o Rio de Janeiro (Pereira Passos), como Nova York (Robert Moses).