O poeta
Baudelaire, um flâneur conhecido e um tanto nostálgico que adorava passear
pelas ruas sem nenhum destino prévio, não tardou a acusar a dimensão das
transformações espetaculares operadas pelo super-prefeito Barão Haussmann: "A velha Paris não existe mais (a forma de uma
cidade muda mais depressa, ai! Do que o coração de um mortal) Paris muda! Mas
nada se moveu em minha melancolia! Palácios novos, andaimes, blocos, velhos
subúrbios, tudo para mim se torna alegoria, e minhas caras lembranças são mais
pesadas do que rochas”.
Verdade
é que tudo muda a todo tempo, aos olhos do poeta, aos olhos do homem comum;
muda em todos os lugares, do lado de fora, no espaço, e do lado de dentro, no coração.
E entender e aceitar que nada no universo é constante, senão a própria mudança,
é muito mais fácil. Algumas coisas antigas são depostas, por uma razão ou outra
e são substituídas por novas. Novas estradas se abrem, enquanto outros caminhos
são abandonados. Tudo se movimenta ininterruptamente e acompanha a vertiginosa
viagem da Terra, no eterno movimento, delineando os seus contornos e geografia.
Poetas e cronistas são andarilhos melancólicos e críticos, habitualmente.
Ressentem-se muito das transformações.Ai, o coração e suas saudades!
Cresci
ouvindo que em Rio Pomba havia uma caveira de burro enterrada; coisa de burro
empacado até depois de morto. Seria esta a razão pela qual a cidade não crescia,
diziam os antigos. Procurei a origem da história. Encontrei muitas fontes para
explicar esta crendice e, entre muitas, cheguei à caveira de burro de Portugal,
uma das mais interessantes:
“Mário Quintela, um homem
notável que, não sendo natural da Covilhã, Portugal, lá viveu uma grande parte
da sua vida, deixando o nome ligado a várias realizações na cidade – poucas, e disso ele queixava-se –,
era o que hoje se poderia chamar um “opinion maker” local. Escrevia
regularmente no Notícias da Covilhã, de que chegou a ser Diretor. Numa das suas
crônicas da época, entendeu detalhar a origem de uma lenda que corria, na
cidade: Haveria – diziam os mais velhos - enterrada em algum lugar na
Praça do Pelourinho, a caveira de um
burro que possuía o maléfico poder de impedir todo o progresso na
Covilhã.
A lenda, segundo Mário Quintela, viria
do tempo das Invasões francesas. Num certo dia, um coronel do exército de Junot entrara na Covilhã com o seu destacamento
militar. Vinham cansados, estropiados e o coronel ao passar pela vila do Paul,
teria ali “requisitado” à força um burro – já não em muito bom estado de saúde
– para conduzi-lo até Covilhã. Ao
transpor o arco do Pelourinho à frente das suas tropas, o burro empacou,
jogando-o ao chão e pregando com os costados do coronel na calçada, causando-lhe
ferimentos e a fratura de uma perna. O coronel, furioso com a humilhação,
evocou os seus deuses para que amaldiçoassem
para sempre a terra que fizera a sua desgraça. A caveira do burro logo
foi sepultada em local secreto. A caveira nunca foi encontrada e o progresso da Covilhã, foi pequeno
certamente, mas talvez não tenha sido o que podia ser, nem o esperado, porque, em
algum lugar, a caveira do burro está ainda a cumprir a maldição”.
Pois, se a tal caveira foi alhures
enterrada, em local incerto e não sabido e não acá em terras pombenses,
deixemos de lado os fantasmas... Ou se alguma outra caveira de burro, que já
esteve em terras de Alentejo e mesmo em terras de Goiás ou Mato Grosso, ou seja
lá onde for, para cá veio arrastada de algures, é certo que já foi há muito
levada pelas enxurradas para o Atlântico e a maldição da caveira de burro já
vai muito longe.
Deixando a imaginação, a fantasia e o
bom humor de lado, porque o assunto requer seriedade, vejamos: é só acompanhar
os noticiários do Jornal O Imparcial, ou o site da cidade, para encontrar uma
efetiva sequência de empreendimentos vitoriosos. São constantes os eventos culturais,
a benfazeja e vitoriosa implantação do IFET em terras pombenses, as várias
inaugurações de obras, os agronegócios, a sinalização das vias públicas, o recebimento
de verbas para o orçamento público com transparente destinação e aplicação em
infraestrutura. É comum encontrar a divulgação de reformas, de eventos e acontecimentos
literários, apresentação de Bandas, projetos sociais e pedagógicos, Concursos Acadêmicos
de Monografias, lançamentos de livros, exposições, atividades nas Escolas, no Museu,
no Arquivo Histórico da cidade, na Biblioteca Municipal e tantas atividades que
promovem as inclusões e o gosto pela arte e cultura. Vejo com entusiasmo crescer
o projeto de leitura (insinuado em uma crônica que escrevi, logo no início do exercício
do mandato do atual prefeito).
Se o mundo está em constante mudança,
essencialmente ao nível das tecnologias, esta chegou de forma definitiva a Rio
Pomba e nos permite observá-la de longe... É a nossa hora de dizer: A
“lendária” caveira de burro foi definitivamente erradicada de nossa terra e
deve restar como mais um “causo” de nosso folclore, ao gosto dos antigos e dos
saudosistas. O sucesso dos vários segmentos municipais evidencia a competência e a seriedade do agente da administração pública,
que se mantém firme e atualizado em relação às constantes transformações. A seu
espírito jovem e empreendedor se deve a integração da cidade em um novo
contexto. É notório o avanço da cidade sob a direção de seu prefeito. Uma nova
cidade para os mais antigos e conservadores como eu; uma cidade promissora, com
uma perspectiva da geração “millenium” com potencial para imergir definitivamente
no progresso e integrar as crianças e os jovens no futuro.
Não passeio pela cidade melancólica e
poeticamente como fazia Baudelaire em Paris, mas acompanho as inovações via O
Imparcial e pelo cyber espace com o meu
coração.
Valéria Áureo
- 07/10/2013
George-Eugène Haussmann (Paris, 27 de março de 1809, 11 de janeiro de 1891),
conhecido apenas como Barão Haussmann- o "artista demolidor",
foi prefeito
do antigo departamento do Sena. Foi responsável pela reforma urbana de Paris,
determinada por Napoleão III, e tornou-se muito conhecido na
história do urbanismo e das cidades. Ninguém como Haussmann mudou
inteiramente a face de uma cidade como durante sua longa administração (de 1853
a 1870), servindo como modelo e inspiração para os que mais tarde reformaram
tanto Buenos Aires (Torquato de Alvear), o Rio de Janeiro (Pereira Passos),
como Nova York (Robert Moses).